Todo motorista tem um
quê de “senhor volante”.
Lembra aquele desenho
do Pateta, o cachorro que fala diferentemente do Pluto, em que
ele, um indivíduo pacato, se transforma num neurótico sanguinário
ao assumir a direção de um carro?
Então, acho que todo
ser humano se transforma no senhor volante quando vai dirigir um
automóvel. Até a minha mãe, uma das senhorinhas de mais bom
coração que eu conheço, vira outra pessoa quando tem duas
toneladas em alta velocidade sob seu controle.
Parece que, ao terem o
poder sobre um veículo, as pessoas perdem totalmente a empatia com
os pedestres, como se não pertencessem mais à mesma espécie. É
como se a pele do motorista se transformasse em fibra de carbono, seu
sangue em gasolina e seu cérebro em fumaça.
A armadura de lata que
protege, também serve para o ataque e é aqui que vou mais além.
Já repararam como o visor do carro se transforma perfeitamente em
uma mira? Sim, essas de arma.
O motorista tem sempre
um quadro à sua frente, delimitado pelas paredes laterais, superior
e inferior do carro. Sua visão nunca é total, sempre parcial.
Entretanto, acho que isso não seja uma questão de gestalt, e sim de
guerra.
Pode reparar, todo
motorista quando vê um pedestre atravessando a via, dá uma acelerada
só para dar um sustinho. É simples, o pedestre entra no seu campo
de visão, ele ajeita o alvo na mira, engata a marcha ou coloca a
bala na agulha, e pisa no acelerador ou aperta o gatilho.
O processo é
exatamente o mesmo. Mirar, calcular a velocidade e atirar. O mesmo
princípio de diversos joguinhos que qualquer um tem no celular, ou
que um soldado tem em mente quando entra no campo de batalha.
Perdoem-me, mas todo
motorista é um assassino em potencial. Com uma poderosa arma em
mãos, um escudo de toneladas e uma cultura que subsidia todos os
seus delírios assassinos, ele se vê no direito e, porque não na
obrigação, de eliminar os fracos e os inferiores da sua frente.
Darwin. Apenas os mais
fortes sobrevivem. E na selva de pedras, se parar o cimento engole,
se correr o louco te atropela.
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