Tenho a impressão de
que, hoje em dia, estar doente tá na moda. Talvez seja um problema
com o meu universo amostral, já que eu e meu círculo próximo de
amigos já entramos na idade de Balzac, abandonamos a ilusão juvenil
da imortalidade e já passamos a conviver com as imagens de um futuro
senil.
Talvez seja porque vivo
em São Paulo onde a poluição ataca os pulmões, o trânsito ataca
o estômago, os políticos atacam os rins e o progresso ataca o
coração.
Talvez seja tudo isso
junto misturado e reforçado com excesso de informação, urgência
de resultados e muita falta de paz de espírito.
É competição pra ver
quem toma o tarja preta mais mal encarado, quem precisa repor mais
vitaminas e nutrientes, quem fez os exames mais absurdos e quem vai
nos médicos mais da moda. Sem contar a terapia, é claro. Todo mundo
precisa de terapia. É preciso se encaixar à normalidade das coisas.
Mesmo que a normalidade seja a necessidade da terapia.
Eu entendo, tem muitos
procedimentos que são absolutamente necessários, tem pessoas que
realmente precisam disso e daquilo, a ciência evoluiu para nos
salvar. Se hoje a expectativa de vida é alta, se deve a todas essas
medidas de bom senso dos atuais cidadãos.
Mas, sinceramente, acho
que rola um exagero aí. Um grande exagero. As pessoas acabam
procurando pelo em ovo, sarna pra se coçar. Vão fuçar num
negocinho e de repente estão gastando os tubos em tratamentos
alternativos ou de última geração. Porque a medicina também é um
negócio muito lucrativo hoje em dia. E todo mundo tem que garantir o
seu. E quanto mais gente neurótica procurando mais assunto pra se
preocupar, melhor.
Eu que vivo dizendo que
não quero ser salva pela ciência, prefiro adotar as preocupações
do tempo dos meus avós. Comer bem, sair pra dar uma volta (a pé)
pra espairecer a cabeça e dormir bem. O resto é consequência.
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