Eu pego o elevador para
chegar no quinto andar. Quer dizer, eu também pego para chegar ao
quarto, ao sexto, ao sétimo. Ao décimo terceiro, com certeza. Ao
vigésimo primeiro, indubitavelmente. Mas eu não pego elevador pra
chegar ao segundo. Muito menos no primeiro. Terceiro? Talvez. Acho
que nunca encarei frente a frente esse desafio.
A verdade é, quando eu
posso, eu evito elevador. Não. Não tenho fobia. Ou acho que não
tenho. Mas elevador é um troço desconfortável. Se você está
sozinho e olha para o espelho, se sente um babaca. Se ele está cheio
e você olha para o espelho, se sente mais babaca ainda. Se você
encontra um vizinho, tem que achar assunto. E haja assunto se a
viagem é longa.
Elevadores corporativos
são piores. No horário do almoço, sempre vai apertado. As pessoas
espremidas. Risos nervosos. É bom torcer pra não ficar do lado
daquele cara que caprichou na cebola crua da salada, ou do outro
comendo um picolé.
Pior é quando é só
você e mais um. Do sexo oposto. E rola um desconforto. Ou quando
entra a mulherada do escritório de moda. E você pensa nas suas
roupas e olha para elas. E elas olham para você e a viagem não
acaba.
Não há viagem mais
longa do que a de elevador. Dura muito mais do que uma viagem de
mescalina com ácido. E é muito, incomparavelmente, mais chata, mais
cinza, mais apagada e sem diversão. A única parte que salva é
aquele friozinho na barriga quando você vai num andar bem alto
nesses elevadores velozes que têm que diminuir a velocidade bem
próximo da hora de parar. E mesmo assim, não vale a viagem.
Quando eu posso, sempre
opto pelas escadas. Pé após pé. Exercitando os joelhos. Joelhos
são importantes. É o que eles dizem. E eu concordo. Sim. Mesmo que
alguém esteja segurando a porta para mim, eu prefiro a escada. Mas
sempre agradeço e tento me explicar, meio sem graça. Nessa hora, é
melhor abraçar a causa da fobia e pronto.
O ponto é, não tenho
medo dele cair. Não acho o enclausuramento algo exatamente
desconfortável. O que realmente me incomoda é a viagem. Aquele
tempo paradinho ali dentro, enquanto a caixa sobe ou desce. O
cativeiro. A convivência forçada com pessoas que você não
precisava encontrar, ou mesmo com um espelho. Não consigo nem pensar
na vida dentro de um elevador. Deve ter a ver com a gravidade. É. A
gravidade da minha loucura. Só se for.
Elevadores panorâmicos?
Bah. Prefiro a solidão de estar no topo sozinha ou embaixo
pequenininha no meio da multidão. Quer me convidar para algo, me
chama para qualquer coisa. Menos para uma viagem de elevador.
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