Chá ou Café?

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quinta-feira, maio 02, 2013

Vamos dar uma volta – uma história de café, bem acompanhado



Não era grande fã de animais. Nada contra, até tinha amigos que eram, só não nutria nenhuma paixão por qualquer uma das espécies existentes.

Não que praticasse maldades, muito pelo contrário, admirava todos os seres vivos abençoados por deus nessa nossa existência mesquinha. Entretanto, não sentia necessidade de manter um contato estreito com nenhum deles.

Amava os animais. Eles lá e ele aqui. Era um relacionamento pacífico, amoroso de uma forma platônica até. Não era vegetariano, mas também não pregava a religião da carne. Lutava pela preservação dos bichinhos em extinção, evitava, inclusive, o consumo exagerado de atum, peixe que sofre com a pesca predatória.

Não apoiava a caça às baleias, nem por seu aspecto cultural, não usava roupas de pelo ou couro animal. Apreciava os animais no zoológico, mas achava que eles estariam melhor soltos na natureza. Em resumo, verdadeiramente amava os animais, só não fazia questão de um contato tão próximo.

Nunca tivera a vontade de ter um cachorro, ou um gato. Achava um absurdo manter um pássaro na gaiola, mas quando criança, tivera um porquinho da índia. Pobre animalzinho. Ficou tão grande que mal cabia na pequena jaula e teve que ser doado para alguém dotado de um quintal.

O único animal de estimação que fora capaz de criar com certo sucesso e até uma boa dose de amor foi um peixe. Um não, vários, porque como se sabe, esses peixes de aquário não duram muito, tão delicados, pobrezinhos. Às vezes morrem de fome, às vezes por excesso de comida, às vezes por falta de oxigênio, às vezes por muita sujeira.

Porém cultivava seu aquário de forma modesta, sem grandes alardes. Não o incomodava que os peixes pouca satisfação davam. Que não abanavam o rabo quando ele chegava em casa, que não pulavam em seu colo quando se sentava para descansar no sofá, ou que não emitissem som algum mesmo quando estavam em algum tipo de necessidade.

Era uma relação simples. Ele os alimentava, limpava, dava uma ração mínima de amor. Em troca, os peixes dançavam no aquário e não incomodavam. Mesmo próximos, eram distantes, do jeito que ele gostava.

Mas a natureza da vida não cessa em nos surpreender. E foi quando ele reparou que, sempre que saia de casa, o tapete da porta de entrada insistia em sair também. Sempre achava um jeito de se prender à porta, de ficar um tanto para fora, de espiar a rua, de se insinuar no passeio. Desajeitado, parecia inclusive se contorcer para poder ir também.

E a coisa foi ficando cada vez mais frequente, mais insistente, de modo que um dia, farto da solidão cotidiana e já muito curioso quanto ao comportamento estranho do tapete, decidiu fazer sua vontade. Pegou um barbante, amarrou em torno do pescoço do dito cujo e saiu com ele para passear.

Na rua, percebeu que todos os olhavam, principalmente para o bichinho se arrastando no chão. Num primeiro momento, sentiu vergonha, mas logo o sentimento se transformou em orgulho. Finalmente pertencia a outro grupo de pessoas, aquelas que possuem um animal de estimação e o levam para passear, aquelas que atraem a atenção dos transeuntes, aquelas que, muitas vezes, chamam menos atenção do que os amigos trazidos na coleira.

E pela primeira vez se sentiu completo. O animal de estimação ideal. Não faz sujeira, não faz barulho, não arranha. Só precisa de uma voltinha na rua e pronto, pode voltar para casa feliz da vida e seguir a sua bela rotina de guardar a porta da frente e receber o dono se embolando em seus pés.

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