Proponho aqui um estudo
antropológico e comportamental sobre a escolha da cor do isqueiro na
sociedade atual.
Isso, aquele
isqueiro-bic que pode ser comprado em qualquer banca, padaria, porta
de balada e que, apesar de sua utilidade, é um objeto totalmente
descartável. Descartável porque, quando em situações sociais,
esse tipo de isqueiro dificilmente volta ao seu ponto inicial,
parando acidentalmente no bolso, bolsa, ou mão de outrem.
Entretanto, apesar de
ser um bem de pouco apego, ao comprar um isqueiro as pessoas
geralmente já sabem que ele será perdido, cedido, ou compartilhado
para nunca mais voltar, percebo que rola um carinho na hora da
escolha da cor do pequeno aparelho incinerante.
Porém, apesar da
atenção, trata-se de uma escolha muito limitada. Primeiro limitada
pela gama de opções de cores que nunca é muito grande. Ao escolher
a cor de uma camisa, ou a nova tonalidade da parede da cozinha é
possível ficar louco com a quantidade de alternativas. Mas para um
isqueiro, não.
Você tem a cartela com
5 ou 10 opções de cores. Nada muito criativo como verde-água ou
salmão. Todas cores mais básicas. Talvez, inclusive, fosse o caso
dos profissionais de moda se atentarem a esse grande filão do
mercado. Curadoria para escolher a cor do isqueiro, uma para combinar
com cada roupa. Listrado, oncinha, xadrez, com babado, degradê,
renda, gola rolê. Enfim, você tem lá uma ou meia dezena de cores,
todas básicas, preto no branco, amarelo no verde, vermelho no azul.
Todavia, e agora sim
chego no cerne da questão, todavia, essas cores vão se extinguindo.
O primeiro que chega tem 10 opções, o segundo, 9, e assim
sucessivamente até que alguém tenha apenas duas opções, ou o
não-tem-tu-vai-tu-mesmo. Não importa se você odeia amarelo. É o
que tem, vai ter que levar mesmo assim. Ou você detesta preto e
verde, vai ter que escolher o menos pior.
Claro, isso não muda a
vida de ninguém, afinal, o importante aqui é a função do objeto e
não a sua roupagem, mas na hora da compra, o atendente sempre
pergunta “qual cor?”. O comprador pede a que mais lhe agrada, ou
menos desagrada, o que é uma decisão que invariavelmente envolve
sentimentos. E como não se chatear, se você odeia marrom, e só tem
marrom?
Existem, é claro,
também as vezes que você sai com um isqueiro branco e volta com um
rosa, ou um rosa e um azul, ou sem nenhum também. O que não faz
muita diferença no processo todo de escolher a cor do isqueiro. Seu
poder de decisão é, portanto, mínimo. Depende de conjunções
interplanetárias, posição das nuvens, sorte, casualidade e um
tiquinho assim de intervenção divina.
Desta forma, colocando
um fim nesse breve estudo, eu concluo que não é você quem escolhe
a cor do seu isqueiro, mas a cor do isqueiro que escolhe você.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial