Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quinta-feira, agosto 03, 2006

Domingo lá em casa – uma história de café, aguado

Domingo você vai almoçar na casa dos seus pais, (bom, pelo menos a minha rotina dominical é assim) e aí, no elevador, você pensa (pelo menos eu penso quando estou no elevador) “meu pai vai perguntar porque eu pintei o cabelo de novo, minha mãe vai perguntar se eu não tenho outro tênis, porque eu continuo andando com esse tênis velho e rasgado e minha vó vai perguntar onde eu estava com a cabeça que resolvi pintar as minhas unhas de vermelho”. Então você sai do elevador, respira fundo, arruma seu cabelo pintado, dá uma olhada no seu tênis rasgado, nas suas unhas vermelhas e pensa consigo mesmo, eles que digam o que quiserem, não entendem nada de estilo.

Você abre a porta e é como se ligasse a TV e estivesse passando um filme antigo, daqueles da sessão da tarde, que você já viu e reviu milhares de vezes, conhece todas as falas (dubladas é claro) de cor e, mesmo assim, não se cansa de se ver. Seu irmão mais novo está esparramado no sofá, seu pai nem pergunta como você está, já vai logo acusando do cabelo, sua mãe reclama do tênis e sua vó, assim que se dá conta do espetáculo, também aproveita a deixa para reclamar das suas unhas, vermelhas de novo, você não tem vergonha mesmo.

Tendo superado a primeira fase, você vai até a cozinha e retoma velhos hábitos. Abre a geladeira, mesmo que não queira pegar nada, só para conferir se tudo ainda está ali, do jeito que você deixou a última vez que morou naquela casa. Destampa cada uma das panelas e dá palpite no menu do almoço e, por fim, pega alguma coisa para comer, qualquer coisa, afinal, a última vez que você ingeriu algo sólido foi há tanto tempo atrás, que você nem consegue marcar com exatidão quando foi isso.

Calmamente, você volta até a sala e prepara-se para a segunda fase, o embate principal, a avalanche de perguntas das quais eles conhecem todas as resposta e você não agüenta mais inventar maneiras diferentes de dizer a mesma coisa. Como vai o trabalho? Bem. E a casa? Bem também. Tem saído? Sim. E daqui para frente, seguem-se as variações do mesmo tema. Onde você foi ontem? Com quem você saiu? Você jantou ontem a noite? Tá se alimentando direito? Tem se agasalhado? Olha que tá frio, heim... Com sorte, aquela sua tia não vai estar em casa também e não vai te perguntar como está o namoradinho, ou porque você não tem um namoradinho. Olha que o tempo tá passando e você já não é tão jovenzinha assim, heim? Sim, tia, eu sei muito bem que eu estou solteira e estou relativamente feliz com isso.

Com sorte e muito jogo de cintura, você consegue se desvencilhar do interrogatório e vai até seu quarto antigo. As coisas ainda permanecem mais ou menos iguais, praticamente no mesmo lugar, o cheiro ainda é o mesmo, mas é como se você não fizesse mais parte de tudo aquilo.

Passado o momento de saudosismo, sua mãe grita e avisa que o almoço está pronto. Feliz, porque a partir desse momento tanto a sua boca, quanto a da sua família vão estar cheias, impossibilitando perguntas inquisidoras ou acusações constrangedoras, você vai saltitante para a mesa a enche o prato de tudo aquilo que você não via há anos, talvez apenas dias, comida feita em casa, no fogão, preparada com carinho.

Depois disso, com a barriga cheia, você disputa com seu irmão um lugar no sofá, enquanto todo o seu sangue deixa seu cérebro, indo em direção ao seu estomago e intestinos, possibilitando que você possa apreciar, com muito gosto, um daqueles típicos programas das tardes dominicais, onde a única coisa que você não precisa é da sua capacidade sináptica.

E aí, quando você vê, o Domingo já era, é hora de voltar à rotina, pensar na segunda feira, na terça e provavelmente no próximo Domingo, quando você vai voltar e eles vão reclamar de novo. Dessa vez, pode ser da sua calça rasgada, do seu cabelo despenteado e, quem sabe, do seu namorado novo.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Dificil é quando eles perguntam "e ai, e os namoradinhos?". Você diz "bem", meio sem graça... Por que você não tem um namorado, mas uma namorada. E você até quer falar isso, mas não tem muita coragem. Afinal, seus pais -- e principalmente, sua avó -- viveram em tempos em que moças que se beijavam não eram nada "normais". Eram sem-vergonhas, possuídas pelo demônio. Você respira fundo e decide "não, ainda não". E pega mais uma colherada do doce de leite que sua avó fez. Afinal, "você está tão magrinha". Essa é uma das vantagens das avós . Para dizer que estamos sempre magrinhas. Afinal, elas viveram em um tempo em que mulher era normal, rechonchuda, tinha defeitos. Não num tempo em que se busca a perfeição a qualquer custo. :-)

03 agosto, 2006 22:05  

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