Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

sexta-feira, maio 30, 2014

Vida Rica – uma história de café, de cocô de passarinho



Presídios superlotados. Alta nos índices de roubos, furtos, latrocínios e homicídios. Quem vê o noticiário tem a impressão de que nunca foi tão perigoso viver no Brasil. Culpa-se a falta de educação, de segurança, de meio social saudável. Na maioria das vezes, esses culpados são sintomas, e não causas.

A verdadeira causa, aquela que todo mundo sabe, mas prefere não ver, é a má distribuição de renda, a desigualdade social.

O brasileiro médio vive dizendo que vai sair do país e morar na Europa. Aquilo é que é continente sério, justo, seguro. Entretanto, quando esse mesmo brasileiro chega lá, invariavelmente se decepciona com seu sonho. Sim, o transporte público funciona, a segurança funciona, o sistema de saúde funciona. Mas não existe desigualdade social. E isso, faz falta.

Faz falta porque não é possível contratar alguém para limpar seu banheiro. É preciso pagar salário de gerente para ter uma empregada doméstica. Mesmo aqui no Brasil, as pessoas já começam a sentir isso. Com a mínima melhora na distribuição de renda e o aumento nas oportunidades, o número de faxineiras reduziu, e o valor que elas pedem aumentou, escandalizando o brasileiro médio tão acostumado a explorar a pobreza de seus concidadãos.

Na Europa, com uma melhor distribuição de renda, o brasileiro médio logo descobre que todo mundo ganha mais ou menos a mesma coisa. E isso incomoda. Como assim ele não pode ser melhor do que ninguém pelo dinheiro que faz ou pelo o que possui? Tenho dois casos de amigos próximos para ilustrar. Um casal voltou recentemente quando percebeu que o topo de seu salário em um alto cargo empresarial era o mesmo que ganhava um marceneiro no tal país europeu. Outro retornou à pátria amada porque o marido, europeu, não era ambicioso o suficiente, se conformava em ganhar apenas o suficiente para viver, não tinha sonhos de enriquecer. Voltaram para fazer fortuna no Brasil, à custa dos outros, é claro.

O brasileiro médio reclama dos impostos, da falta de segurança, do risco à roubos, mas quer se manter “superior”aos demais. Quer ficar rico, quer ter empregados. Para ele, o mais importante é que a má distribuição de renda nunca acabe. Como é que ele vai ganhar, por um trabalho intelectual, o mesmo que um vagabundo ganha por um trabalho braçal? É um absurdo. Qualquer um pode levantar uma parede. Eu receio que não.

Esse brasileiro médio não percebe que, enquanto ele tem muito, e outros tem muito pouco, ele desperta a inveja, a raiva, o sentimento de desigualdade e injustiça. Ele trabalha, ganha dinheiro, compra seu objeto de desejo, uma SUV, e sai desfilando por aí. O pobre ajudante de pedreiro que trabalha feito um burro de carga e sabe que nunca vai conseguir juntar dinheiro o suficiente para comprar o mesmo veículo, um dia se cansa, vai pra rua e decide roubar seu também objeto de desejo, uma SUV.

Não estou dizendo que uma coisa justifica a outra, longe disso, muito menos que isso é regra geral, foi só um exemplo fictício. Minha intenção é apenas lembrar que, se todos tivessem as mesmas oportunidades, ou pelo menos oportunidades mais próximas, diminuiríamos, e muito, a criminalidade. Foi isso que a Europa fez. São poucos os salários milionários, tanto nos cargos públicos, como privados. São menores as diferenças de teto salarial, tanto nos empregos em corporações, quanto serviços. Isso gera mais satisfação, aumenta a sensação de justiça e merecimento, diminui a ganância, a ambição, a inveja e a propensão à corrupção. Ninguém precisa ter mais que o outro, ninguém precisa ser superior, ninguém precisa pisar em ninguém. Podemos ser todos iguais.

Inclusive, se salários exorbitantes não fossem possíveis, você não precisaria trabalhar 14, 16 horas por dia na esperança de enriquecer. Não iria fazer a menor diferença. Você não iria ficar mais ou menos rico mesmo. Aí, dava para trabalhar 8, 6, 4 horas por dia. E passar o resto do tempo com a família, os amigos, curtindo por aí. Aliás, os preços das coisas não seriam tão caros também, porque os salários não seriam tão díspares. E aí, você poderia não ser rico em cifras mas, provavelmente, seria muito mais rico em vida.

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