Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quinta-feira, abril 12, 2007

A história das coisas – uma história de chá, da Cracolândia

Eu trabalho no centro de São Paulo, mais precisamente na região conhecida como Cracolândia. Na realidade, nem é tão mal quanto parece. Você se acostuma fácil e depois não faltam motivos para dar risada. Mas infelizmente, apesar de estar perto de diversas coisas interessantes, eu, como boa paulistana que sou, nunca tenho tempo para visitar nenhuma delas, estou sempre com pressa e tenho sempre um compromisso urgente e inadiável. É por isso que para pessoas como eu, existem os imprevistos. Amém!

Hoje, por um acaso do destino, acabei indo almoçar sozinha. Ótimo para pensar na vida. Depois de comer, notei que ainda me faltava um tempo da preciosa “hora do almoço” e resolvi caminhar um pouco, também ótimo para pensar na vida. Primeiro sai sem destino, entrei numa rua meio deserta e quando estava decidindo o que ia fazer, avistei o prédio da Pinacoteca ao fundo. Que sensação boa. Adoro construções antigas, elas me deixam imensamente feliz simplesmente por existirem. Atraída, hipnotizada, fui andando até chegar bem perto do edifício. É incrível como eu me sinto bem perto desses lugares cheios de história, imóveis, imponentes e de certa forma, imortais. Na porta, é claro, estavam diversos estudantes entediados com a idade do prédio e das obras que nele habitam. Provavelmente eu já fui um deles. Felizmente as pessoas mudam.

Passei encarando a Pinacoteca e me lembrei do Parque da Luz, que existe logo adjacente. Dia de sol, céu azul, temperatura gostosa. A sombra das árvores, o colorido das flores. Perfeito. E ilógico. Um parque até que bem cuidado, mas freqüentado pelas figuras características dessa parte do centro. Loucos, loucas, prostitutas, travestis. Todos surrados, maltratados, mal amados, mal nutridos, mal sonhados. Adoro parques, adoro verde, adoro sol, adoro luz. Não me senti mal. Tampouco me senti bem. Apenas me senti viva e privilegiada. Horário de almoço no centro infernal de São Paulo e eu estava calmamente passeando num reduto verde, esquecida da vida e do que deveria fazer. A energia que as coisas velhas emanam deveria ser algo a ser estudado, capturado, sintetizado e distribuído para a paz mundial. Você pode sentir a idade das coisas. Você pode sentir a segurança da experiência, pode imaginar tudo o que aquilo já viu, sentiu, observou, impassível e presente. É como se por alguns segundos, estando sob seu teto, perto de suas paredes, você pudesse também absorver um pouco de toda aquela vida, aquela energia, aquela história.

Sai do Parque. Cruzei a estação da Luz. Como coisas tão incríveis podem passar tão desapercebidas no dia a dia de milhões de paulistanos? Quantas mil pessoas passam naquele lugar todo dia, ansiosas por chegarem ao trabalho, sedentas por chegar em casa, desligadas do mundo que está lá fora, atentas apenas ao mundo que corre desgovernado dentro delas. Como não notar toda história que se desenrola à frente de nossos olhos, como não sentir a vibração que vem de cada viga, como ignorar cada sinal vindo do passado, como não ouvir cada mensagem clamando por um futuro.

Sei lá. Às vezes é preciso se desligar de si mesmo. Parar de pensar com o umbigo e ouvir um pouco o que as coisas têm a dizer. Aquelas inertes, imóveis e sem temperatura corporal. Sentir o que elas já viveram, olhar o que elas já viram, pensar o que elas já intuíram e respirar o que elas já absorveram. Não é fácil, é preciso, antes disso, esquecer de muitas coisas. É por isso que para pessoas como eu e talvez como nós, existem os imprevistos, aqueles momentos que nos pegam de surpresa, nos jogam ao chão e nos fazem ver tudo de um ângulo completamente diferente e impressionantemente melhor.

4 Comentários:

Blogger David Galasse disse...

que texto gostoso! e bem no dia que eu achei um restaurante vegetariano na Berrini :)

13 abril, 2007 11:16  
Anonymous Anônimo disse...

Há dias em que tiro 3 horas para o almoço e fico 2 sentado em uma pedra, olhando uma água que sobe do chão e refletindo sobre coisas que devo fazer ou “o que estou fazendo?”. Para não virar rotina, troco este ambiente pelo masp ou parque trianon.

Temos que nos permitir o desligar, mas até aonde sigo desligado?

bejo,

13 abril, 2007 14:54  
Blogger mihail disse...

texto mágico. estou extasiado. vou dar uma volta no parque da luz. passo todo dia por ele e nunca entrei. na sexta fui deixar uma amiga na estação à noite e tomei um susto com a beleza iluminada da estação. tive que parar o carro, ir pro meio da rua e tirar uma foto http://www.panoramio.com/photo/10072380.

Adicionei aos meus favoritos

11 maio, 2008 03:07  
Blogger Kel disse...

Obrigada!

12 maio, 2008 10:44  

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