Chá ou Café?

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quinta-feira, março 01, 2007

Órfã do Carnaval – uma história de café, com confete e serpentina

Esse ano eu passei o Carnaval no Rio de Janeiro. Como não sou dada à multidões e apresentações colossais, fiquei todo o tempo longe da Sapucaí e perto dos blocos carnavalescos. E como, além de tudo, prefiro manifestações mais restritas, procurei aqueles blocos mais alternativos, menos inchados, mais sossegados e por tudo isso, mais surreais. Desde pequena, sempre passei o tal feriado numa cidadezinha do interior paulista, onde a grande festa era cantar marchinhas de carnaval e brincar despreocupadamente, como nos bons idos tempos. Quando o Axé invadiu a avenida, eu simplesmente me retirei pela porta dos fundos na esperança de que dias melhores iriam vir. E vieram. Esse ano, no Rio, pude ter minhas esperanças retornadas em grandes doses de folia e alegria inesperada.

Os blocos saem pelas ruas cantando marchinhas antigas e atraindo multidões de pessoas que não querem nada mais do que se divertir. Nada de pressões, nada de tumultos, nada de confusões. Posso dizer que meu carnaval no Rio foi uma experiência antropológica, uma constatação da natureza humana, um sonho surreal.

Andando pelas ruas desertas da cidade, tinha a impressão de estar em um conto de ficção científica ou de terror, é claro que numa interpretação mais lúdica, onde a metrópole havia sido esvaziada, seus habitantes teriam deixado tudo às pressas ao saber da invasão que estava por vir. Assim, a cidade teria sido infestada por orlas de foliões desvairados, dançando insandecidamente e cantando músicas por muito esquecidas. Fantasiados, coloridos e com sorrisos de dar inveja, as nuvens de gafanhotos fanfarrões iam percorrendo as ruas com uma energia contagiante, deixando um rastro de melodia e às vezes desolação.

Quem caminhasse pelas ruas do centro com o trânsito fechado, o comércio lacrado e os bancos ausentes, não imaginaria que em poucos segundos, aquilo pudesse se transformar num dos cenários mais animados de carnaval que já presenciei. Cortando o silêncio e a monotonia, direto do nada, surgia a multidão de alegria incontrolada, entoando cantigas de bebedeira, amor e folia, pulando, dançando, se abraçando, exibindo vestes espalhafatosas, colorindo o asfalto e os prédios cinzas.

Como na “Volta dos Mortos Vivos”, em que a cidade devastada é invadida por zumbis, a cidade Maravilhosa aparentemente abandonada era dominada pelo grupo mais animado de cidadãos. E ao fim do dia, com o pôr do sol, o corpo dolorido e a voz rouca de tanto cantar, a única coisa que eu podia desejar era a chegada de uma nova onda de tresloucados que pudesse, enfim, não me deixar parar de sorrir.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que texto lindo... sua descrição me fez imaginar cada segundo dessas cenas... e me deu uma baita inveja de quem estava lá! Rs.

01 março, 2007 18:24  

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