Chá ou Café?

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terça-feira, novembro 07, 2006

E porque não se vende Felicidade em pacotes de preparo instantâneo – uma história de chá, com metilenedioximetamfetamina

Haverá o dia em que você vai chegar ao supermercado e encontrar prateleiras inteiras lotadas de embalagens de Felicidade com preparo instantâneo nos sabores amor, amizade, dinheiro, saúde e orgia. O único problema é que, como todo industrializado, tal produto virá acompanhado de uma data de validade, alguns efeitos colaterais indesejáveis, como inchaço e má nutrição e um preço as vezes não muito convidativo, mas nada que não possa ser solucionado com qualquer outra nova invenção.

Por exemplo, para combater os males causados pela azia ou indigestão oriundos do constante consumo de Felicidade, basta ir na farmácia mais próxima e comprar umas cápsulas de Alegria. Tal artigo acabaria com aquela sensação de mal estar e ainda deixaria sua pele com a aparência saudável e brilhante.

Para aqueles com tendências mais depressivas e auto-destrutivas, também seria desenvolvida a pasta de dentes a base de Tristeza com longa duração. Aquela que basta você usar uma vez para se sentir infeliz e desamparado pelas 24 horas subseqüentes.

Mais além e com base nos conhecimentos de culinária e nos processos humanos, é bom ressaltar que esses alimentos de preparo instantâneo, além de uma grande quantidade de acidulantes, conservantes e substâncias artificiais, também são de incrível fácil digestão. Sendo assim, após o consumo de uma refeição de Felicidade, a Tristeza viria com o fim do processo digestivo, mesmo sem o uso do dentifrício a base de tal (para aqueles que apreciam um pouco de melancolia e solidão logo após as refeições, seu uso, no entanto, se faria indispensável).

Outro problema causado pela inclusão desses novos bens de consumo no mercado seria a dependência física e psicológica que ambos acarretariam, porque todos aqui bem sabem que a Tristeza, por natureza (com o perdão da rima infame), tem uma duração muito maior do que a Felicidade (citando o poeta: tristeza não tem fim, felicidade sim.). Sendo assim, o consumo de Felicidade, para suprir ânsias e carências, seria muito maior do que o de Tristeza, já que foi comprovado que o corpo é capaz de produzir esta última praticamente por geração espontânea, enquanto Felicidade requer uma boa dose de outros estímulos, (parecidos com aqueles acrescidos nos adoçantes artificiais).

Deste modo, criaríamos uma geração viciada em Miojo-Felicidade, afogando mágoas e decepções em potes e potes de lixo instantâneo. Os refrescos gaseificados extremamente adocicados (e a base de cola[?]) seriam sumariamente substituídos por refeições rápidas e de preparo imediato, símbolo de uma nova juventude. Modelos esbeltas e felizes ao lado de rapazes descolados e com cara de desajustados posariam com seus pacotes de Felicidade ao alcance da boca, destilando exaltação e bom humor.

E assim caminharíamos para um novo estágio da humanidade, em que as emoções, finalmente controladas pelas grandes corporações, poderiam enfim ser adquiridas em qualquer esquina, a qualquer preço e nos mais variados sabores, indicações de uso, efeitos colaterais e composições.

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