Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

terça-feira, novembro 21, 2006

Eu, a mulher invisível – uma história de chá, transparente

Recentemente, descobri algo muito interessante. Eu tenho poder de invisibilidade. Sim, igual daqueles super heróis dos quadrinhos, eu também posso ficar invisível, ou pelo menos não ser notada.

É muito simples, qualquer um pode tentar, não requer prática, tampouco habilidade. Apenas um pouquinho de boa vontade. O segredo está em nunca, em hipótese alguma, olhar diretamente nos olhos de alguém. Aquela história da árvore que cai no meio da floresta, se ninguém viu, não aconteceu. O processo é mais ou menos o mesmo. Se você não é visto por ninguém ou, ao menos, não se esforça para sê-lo, simplesmente você não está lá.

Faça a experiência. Andando na rua, apressado, a calçada lotada, se você não olha para ninguém, é como se nem estivesse ali. Na balada, aquele amontoado de gente, se você consegue desviar de cada olhar, é como se você não existisse, como se fosse apenas um voyeur, observando com o canto dos olhos o que os outros fazem mas, nunca, em momento algum, mantendo contato visual. A partir do momento que seu olhar encontra o olhar do outro, a mágica se quebra, cai o véu e sua capa de invisibilidade vai para o saco. Assim, é necessário, também, desenvolver um bom timing. Elaborando um modo eficaz de girar a cabeça, tendo uma visão geral da festa e sendo ágil o suficiente para não olhar ninguém diretamente nos olhos, seu sucesso nessa empreitada está garantido.

Uma das melhores situações para ativar seu poder de inexistência é no interior de lojas com vendedores chatos. Entre secando a vitrine, não descole seus olhos dos produtos, não dê confiança ao vendedor. Em poucos segundos, ele esquece de você e vai atacar outra vítima menos preparada. Logo, você está livre para transitar despreocupadamente pelo interior do espaço sem ser notado, provando o que quiser e quando quiser.

Repare que a maioria dos garçons já descobriram como ativar esse importante poder. Não sei se é instinto, se eles aprendem isso em algum cursinho obscuro ou reuniões subversivas organizadas nos fundos de grandes armazéns desocupados, o fato é que todos eles, quase sem exceção, dominam com primazia a técnica. Basta você precisar do garçom, que ele nunca está lá. Você passa horas tentando manter contato visual para pedir mais um chope, uma cerveja, uma porção de pastel ou um caldinho de sururu e ele simplesmente vai evitar sua linha de visão com maestria até que, exausto, você se vê obrigado a recorrer a alguns dos indispensáveis vocativos como “grande”, “campeão”, ou apenas “oi”, quando então ele vai se virar lentamente e finalmente olhar de relance em seus olhos, para voltar momentos depois como se aquele fosse o primeiro contato.

Reuniões malas, jantares de família, professores engraçadinhos, é muito fácil escapar de todos eles apenas usando o controle de seu olhar. Se ninguém te nota, você nunca esteve ali. Nada de falsos cumprimentos, opiniões mentidas, manifestações forçadas. Total liberdade para transitar de um local a outro sem absolutamente ser notado.

Simples como demonstrado, é muito fácil ser invisível numa sociedade, numa cidade, num ambiente em que todos estão largamente mais interessados em si mesmos ou em se promover, do que reparar se existe alguém ao lado. As pessoas realmente não fazem questão de notar, apenas de serem notadas. Assim, se você simplesmente fizer o inverso, apenas notar, sem se esforçar para ser notado, seu sucesso será absoluto e a visão de espectador desse mundo bizarro pode ser muito mais gratificante do que os louros do estrelato.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

quero uma capa dessas!
vou começar a treinar...

23 novembro, 2006 23:35  

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