Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quinta-feira, novembro 23, 2006

Leve-me ao seu líder – uma história de café, mal tirado

Ser consumidor é uma arte. Ser vendedor também. Eu que já estive dos dois lados do balcão posso dizer que, quando algum problema aparece, nenhum dos papéis é legal. Entretanto, como o consumidor tem sempre a razão, na maioria das vezes, é mais fácil ser aquele que consome, se bem que os vendedores sempre acham um jeito não muito educado de revidar.

Desde pequena, assistindo papai e mamãe lutarem bravamente por suas vontades, desenvolvi também meu próprio modo de argumentar e obter o que é meu por direito nesta constituição, naquela, ou em qualquer estatuto de qualquer órgão que ofereça validade às minhas palavras.

Não importando qual seja o erro em questão, você sempre começa a discussão de forma civilizada. Utiliza os verbos nos tempos corretos, vocativos amenos, tom de voz afável. À medida que a conversação vai esquentando, as coisas mudam. Os verbos tornam-se imperativos, as pausas inexistentes e o volume só aumenta. Depois de um certo tempo, a coisa passa a ser pessoal. Não faz mais diferença quem tem razão, em qual artigo da lei vocês estão se baseando e muita vezes, ninguém nem se lembra qual foi o motivo que deu origem à confusão toda. Chega um momento em que o importante é vencer, não importando quais meios serão utilizados para esse fim. Você quer ter razão, quer ser indenizado, coberto de desculpas, presentes e elogios. Do outro lado, o acusado quer fazer você sofrer, torturar lentamente para que se arrependa de, um dia, ter sequer insinuado fazer o registro de tal reclamação.

É nesse estágio que sempre chega o meu momento favorito: Leve-me ao seu líder. Essa coisa de “eu posso falar com o seu supervisor, por favor?” ou “onde está o gerente?” sempre me divertiu incrivelmente. Esse negócio de missão de paz, ou missão de guerra, em que os líderes das duas nações ou espécies se encontram, discutem de “igual para igual”, afinal de que vale ficar batendo boca com os peões quando se pode desafiar a rainha? De um momento para o outro, tudo muda. Numa solenidade velada, o então chamado líder aparece e tem-se, enfim, o embate final. As duas partes se cumprimentam formalmente e até cordialmente. Os argumentos são expostos, cada lado toma seu partido. Politicamente, o líder tenta encaminhar a solução para um consenso. Num tribunal improvisado, o réu é julgado, condenado ou absolvido em questão de minutos.

Finda a discussão, normalmente é o consumidor que sai feliz, afinal, ele tinha a razão. Enquanto isso, a gangue de empregados já prepara uma retaliação, formula piadas e começa a recontar a história de forma cinematográfica para todos aqueles que não tiveram o prazer de presenciar mais uma comédia da vida servindo as pessoas.

Quando uma dessas situações termina, você, o consumidor, exausto depois de falar com 5 departamentos, 12 secretárias, 40 esperas telefônicas (ou não) e uns tantos atendentes bem mal educados e imprestáveis, antes do supra citado chefão, normalmente sai feliz com seu feito. Obviamente, você perdeu todos os compromissos que tinha marcado, sua cabeça dói e você nem sabe o que fazer com aquele monte de chaveiros e toalhinhas que ganhou, mas a sensação de ter vencido uma batalha, (porque a guerra, meus amigos, contra o mercado inóspito continua) é inebriante.

Do outro lado, vendedores, garçons, atendentes, gerentes, donos de estabelecimento indignados tamanha a quantidade de picuinhas que são obrigados a agüentar dia após dia desses consumidores mal acostumados, mimados, sem paciência ou total noção de humanidade, se reúnem e riem à custa de tanta energia gasta, às vezes, com tão pouco.

Não são raras as ocasiões em que é fácil pôr um fim à situação logo de cara. Entretanto, temos duas classes lutando. No canto esquerdo, com sua arrogância, prepotência e falta de tempo, o consumidor. No canto direito, com seus gerúndios, frases vazias e falsidades, o vendedor. Vivendo um embate eterno, eles nunca vão se entender mesmo. Então, nessas horas em que o choque é inevitável e alguém vai ter que bater e alguém vai ter que apanhar, dispam-se de suas meias palavras, porque sempre, invariavelmente, aquilo que foi o estopim do acontecimento é e será esquecido e o mais importante, indubitavelmente, será a decisão final e qual dos egos vai se sagrar como o vitorioso da vez.

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