Como é que nos
tornamos tão obcecados por velocidade?
De onde veio essa
fixação por rapidez?
Por que é que tudo
hoje em dia é urgente?
As pessoas se agarram à
boia da urgência, mas nem se dão conta de que estão sem rumo,
soltas em alto mar há muito e muito tempo...
Os paralelepípedos
deram espaço ao asfalto para que pudéssemos correr mais rápido em
carroças ultra sofisticadas. As palavras deram espaço às
abreviações para que pudéssemos nos comunicar muito mais rápido.
Os telefones deram espaço aos celulares para que pudéssemos nos
achar muito mais rápido.
Mas pra quê? Pra quê?
Até a comida hoje em
dia é rápida. Em poucos minutos qualquer idiota prepara uma
refeição de plástico com gosto de isopor que enche a barriga e
entope o cérebro, só para que tenha mais tempo para socorrer as
necessidades inadiáveis de seu dia.
As mulheres já não
andam mais elegantemente de salto por aí. É bem complicado andar
rápido em saltos altos. Correr, então, nem se fala. E quem é que
tem tempo de andar calmamente hoje em dia?
Só vagabundo mesmo. O
resto, todo mundo corre. E se não corre, deveria estar correndo.
Porque o tempo urge. Mas urge pra quê?
Nunca se viveu tanto na
história da humanidade e mesmo assim as pessoas seguem reclamando
que não têm tempo. Sonhando com dias com mais horas. E mais horas
pra quê? Pra correr um pouquinho mais, claro. Descansar é coisa de
desocupado. E ninguém aqui quer ser chamado disso.
Tudo tem que ser
rápido. A conexão mais rápida para poder acessar mais coisa em
menos tempo, para ter mais informação, para trocar mais dados. O
trabalho mais rápido para que possa produzir mais, para ganhar, para
gastar mais.
Antes falava-se
pausadamente, antes caminhava-se distraidamente, antes os carros não
passavam dos trinta quilômetros por hora, as notícias demoravam
dias para chegar, os filmes não estreiavam às baciadas e estávamos
todos bem.
Agora tudo voa diante
de nossos olhos e só posso me perguntar para quê? Certamente não é
para que as pessoas tenham mais tempo para si, ou para suas famílias,
ou para descansar, muito menos para fazer nada.
Acho que nem se sabe
mais porque se corre. Cachorro correndo atrás do rabo. Um círculo
sem fim e sem sentido algum.
Aristóteles disse que
a escravidão acabaria quando as ferramentas trabalhassem por si
mesmas. Ledo engano, hoje temos máquinas para trabalhar, nos servir
e transportar e nunca fomos tão escravos. Escravos de nosso próprio
tempo. Tempo que nos privamos em nome de eu nem sei mais o quê.