Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quarta-feira, outubro 30, 2013

Corra Totó, corra - uma história de café, pra ontem


Como é que nos tornamos tão obcecados por velocidade?
De onde veio essa fixação por rapidez?
Por que é que tudo hoje em dia é urgente?

As pessoas se agarram à boia da urgência, mas nem se dão conta de que estão sem rumo, soltas em alto mar há muito e muito tempo...

Os paralelepípedos deram espaço ao asfalto para que pudéssemos correr mais rápido em carroças ultra sofisticadas. As palavras deram espaço às abreviações para que pudéssemos nos comunicar muito mais rápido. Os telefones deram espaço aos celulares para que pudéssemos nos achar muito mais rápido.

Mas pra quê? Pra quê?

Até a comida hoje em dia é rápida. Em poucos minutos qualquer idiota prepara uma refeição de plástico com gosto de isopor que enche a barriga e entope o cérebro, só para que tenha mais tempo para socorrer as necessidades inadiáveis de seu dia.

As mulheres já não andam mais elegantemente de salto por aí. É bem complicado andar rápido em saltos altos. Correr, então, nem se fala. E quem é que tem tempo de andar calmamente hoje em dia?

Só vagabundo mesmo. O resto, todo mundo corre. E se não corre, deveria estar correndo. Porque o tempo urge. Mas urge pra quê?

Nunca se viveu tanto na história da humanidade e mesmo assim as pessoas seguem reclamando que não têm tempo. Sonhando com dias com mais horas. E mais horas pra quê? Pra correr um pouquinho mais, claro. Descansar é coisa de desocupado. E ninguém aqui quer ser chamado disso.

Tudo tem que ser rápido. A conexão mais rápida para poder acessar mais coisa em menos tempo, para ter mais informação, para trocar mais dados. O trabalho mais rápido para que possa produzir mais, para ganhar, para gastar mais.

Antes falava-se pausadamente, antes caminhava-se distraidamente, antes os carros não passavam dos trinta quilômetros por hora, as notícias demoravam dias para chegar, os filmes não estreiavam às baciadas e estávamos todos bem.

Agora tudo voa diante de nossos olhos e só posso me perguntar para quê? Certamente não é para que as pessoas tenham mais tempo para si, ou para suas famílias, ou para descansar, muito menos para fazer nada.

Acho que nem se sabe mais porque se corre. Cachorro correndo atrás do rabo. Um círculo sem fim e sem sentido algum.

Aristóteles disse que a escravidão acabaria quando as ferramentas trabalhassem por si mesmas. Ledo engano, hoje temos máquinas para trabalhar, nos servir e transportar e nunca fomos tão escravos. Escravos de nosso próprio tempo. Tempo que nos privamos em nome de eu nem sei mais o quê.