Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

terça-feira, julho 07, 2015

Eu, uma pedra – uma história de chá, de quebra-rocha

Semana passada dava pra ver Vênus e Júpiter brilhando juntinho, juntinho no céu estrelado. Cada noite mais próximos até que quase viraram um. Não eram estrelas, eram planetas. Não é tão comum ver planetas assim, tão grandes, tão brilhantes. Aliás, para uma pobre mortal como eu, não é tão comum olhar para o céu e saber o que se está enxergando. O que eu estou chamando de estrelas será que são realmente estrelas? Não são planetas? Satélites, lixo estelar? Amontoados gigantes de gases e matéria? Não sei. Sei apenas que são passado. Aquela história de que a luz demora tanto tempo para viajar no espaço e chegar até as nossas retinas, que estamos olhando para o passado.

Mas muito além de toda essa questão astronômica e quântica, isso porque eu nem quis entrar no mérito astrológico da coisa, olhar para esses planetas me faz pensar que de maneira algumas eles podem ser despossuídos de vida. Tá, não há vida como a conhecemos nem em Vênus, nem em Júpiter, não que saibamos. E até onde vai o nosso conhecimento, também os julgamos como dois astros estéreis, incapazes de gerar vida. Entretanto, acho tão difícil pensar neles como simples matéria morta dividindo o mesmo sistema solar com a gente.

Se eles estão ocupando um espaço nesse universo, eles estão vivos, eles têm alguma razão para estarem lá. Afinal, tudo isso que a gente conhece dentre tantas galáxias e principalmente o que a gente desconhece é um organismo vivo que se completa, se expande e se retroalimenta. É impossível pensar que algo que está ali, que faz parte, não tenha uma função, mesmo que mínima, e se tem função, tem vida, tem uma história, tem um porquê.

Ao olhar para Júpiter e Vênus no céu, tenho a mesma sensação que me abate quando olho para uma rocha de origem muito, muito antiga. Uma dessas rochas magmáticas ou derivadas. Essas que você olha e pensa, isso tá aqui há bilhões e bilhões de anos, eu não sou nada perto dessa rocha. E aí, eu não consigo acreditar que algo que tenha assistido a ascensão e queda de diversas civilizações, o surgimento e a extinção de diversas espécies, que tenha tanta vida guardada e acumulada dentro de si, que tenha experimentado tanta coisa que eu nunca terei condições de viver, não esteja viva. Sem aquela rocha talvez a minha vida não fosse possível. Impossível pensar nela apenas como matéria inanimada. Morta.

Os humanos definiram que tudo o que contém carbono tem vida. Tá, pode ter lá seu sentido científico. Mas acho que metafisicamente e filosoficamente podemos ir além, muito além. Como as rochas. Incansáveis, intrépidas, impávidas, imóveis e praticamente indestrutíveis à ação do tempo e do espaço. Talvez seja esse o exercício, tentar ver e conceber a vida do ponto de vista de uma rocha. Com paciência, com firmeza, com resignação, com calma, com tranquilidade e com tudo o mais que vai na contramão da ansiedade, essa sim nossa grande matéria morta.