Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Janeiro, essa mulher infeliz – uma história de chá, transbordante

Janeiro é uma mulher infeliz. Quiçá mal comida. Ou bem mal comida. Faz um drama. Chora até não poder mais. Se esgoela, esbraveja, derrama todo seu desgosto sobre nossas cabeças. E haja paciência. E haja complacência pra aguentar tanto lamento. Lamúria sem ter fim. Tristeza que dura um mês inteiro. A vida fica cinza. Em diversos tons de cinza. Fica úmida também. Pés gelados. Mãos frias.

Lava a alma, Janeiro! Lava a alma. O problema é que a alma de São Paulo anda tão suja, que não há temporal de Janeiro que dê conta de limpar. E aí, sobra só a tristeza. Fecha a torneira do mundo, meu pai! Que assim a gente não consegue mais levar.

É olhar pela janela e enxergar a floresta tropical. Ah, como essa água que nunca cessa faz mais sentido agora. O que não faz sentido é a gente. Presos em nossos caixotes de cimento. Ilhados por nossos montes de piche. Atormentados por nossos delírios de fumaça. E ainda esperando que o milagre venha do céu.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Os botões dos outros - uma história de chá de sumiço

Eu ando muito a pé. Invariavelmente seguindo as mesmas rotas, caminhando nas mesmas calçadas, atravessando as mesmas ruas. Isso faz com que eu não preste mais muita atenção no trajeto, nem nas casas, nem nos muros. Entretanto, mesmo distraída, é fácil reparar nos detalhes que destoam da imagem que o cérebro estaria esperando enxergar.

E uma dessas coisas que frequentemente me chamam a atenção são peças de vestuário ainda em bom estado largadas na rua. Ontem vi um par de sandálias no canteiro de uma árvore. Semana passada, uma bermuda jeans feminina na calçada. Esses objetos não me chamam a atenção por seu estado de conservação ou localização insólita, mas porque imediatamente me fazem imaginar suas histórias. De quem eram, por que foram largados ali, por que exatamente naquele lugar.

A primeira versão é sempre a mais terrível. Crime. Assalto. Sequestro. Violação sexual. Depois tento atenuar. Tava muito bêbada. Tava muito loca. Brigou com o namorado, largou tudo ali e saiu correndo. Talvez a peça estivesse apenas incomodando, talvez a pessoa quisesse sentir o vento da liberdade soprando na pele desprotegida. Talvez tenha tido um surto psicótico e resolveu largar tudo para traz e começar uma nova vida.

Talvez. Tantas coisas e nenhuma. O fato é que esse pequeno pedaço de alguém, abandonado ali, sempre parece ter uma história. Não é o acaso. Algo aconteceu. E aquilo é o que restou. Ali está a memória. E eu que muito falo com meus botões, mas ainda pouco falo com os botões dos outros, fico aqui imaginando o aquela testemunha dos fatos, a única a que tenho acesso, poderia me contar.

Internet, o nosso velho oeste – uma história de café, cowboy

Há 10 anos atrás, o mundo era bem diferente. Principalmente se considerarmos as mudanças econômicas, sociais e comportamentais que a evolução das telecomunicações nos trouxe. A tecnologia em si trouxe novos empregos e modificou a maneira de executar os velhos. A comunicação móvel se tornou indispensável e a internet se fez mais rápida e acessível para muitos.

Passada a primeira bolha de 1999 e 2000, a rede voltou a ser um ambiente cheio de oportunidades para investir, inovar e também articular. A internet mudou as nossas vidas. Talvez com mais impacto a vida de algumas gerações. Por ter vivido em um mundo analógico e agora estar em um mundo digital, a minha sensação pessoal é realmente de que a internet é uma realidade paralela.

Uma realidade paralela com suas noções peculiares de consciência, distância, tempo, localização e leis. Na internet, a gente compartilha coisas com estranhos que não compartilharia na vida real. Ninguém sai pela rua distribuindo álbuns de música, filmes, livros. Muito menos sai gritando as próprias opiniões ou sentimentos profundos aos quatro cantos.

O acesso instantâneo a qualquer tipo de informação vinda de todas as partes do mundo e onde quer que você esteja (salvo alguns países) também nos tornou mais imediatistas. Frases curtas, imagens em abundância, muitos vídeos. Tudo tem que ser absorvido e devolvido muito rápido.

E quando essa informação volta para a rede, volta em forma de expressão pessoal ou de grupo que se espalha rapidamente. Assim, é comum uma notícia que cause indignação virar protesto em minutos, ou um simples aniversário de adolescente virar a maior festa do bairro.

Mas por tudo isso de novo que ainda pega de surpresa o mundo antigo, a internet é hoje uma terra sem leis. Porque as leis do mundo lá de fora, não se aplicam na realidade aqui de dentro. São dois universos completamente diferentes que, por isso mesmo, não podem ser regidos pela mesma legislação. E é esse um dos grandes problemas atuais. Como regulamentar algo totalmente novo e que não se encaixa no que existia até agora. São dois mundos distintos, correndo paralelamente, mas que de similares tem muito pouco. As próprias pessoas são uma coisa no mundo real e outra no mundo virtual.

O que acontece é que o próprio meio, através da atividade de seus participantes já criou suas próprias leis, ou não leis, sua própria organização social, cultural e política. E isso, é claro, é totalmente diferente das leis aplicadas no mundo aqui fora.

Um amigo disse que o velho mundo está afundando e enquanto isso tenta levar o novo mundo junto com ele. Quero acreditar que o novo mundo pode nos surpreender o suficiente para não se deixar levar e ainda trazer consigo coisas muito mais interessantes à superfície.

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bla bla bla
voltou
sem mais

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