Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

sexta-feira, agosto 31, 2007

Travessia no busão, uma questão de estratégia – uma história de café, apertado

Eu não dirijo. E para sorte e futuro da nação, é bom que essa situação não se altere. Sendo assim, quando eu tenho que me locomover, uso meus pés ou o busão. E depois de anos de prática e treino, eu desenvolvi minhas próprias táticas de sobrevivência nesses meios de locomoção tão incertos.

Na realidade, eu gostaria de elaborar e distribuir um manual com normas de boa conduta dentro dos coletivos. Entretanto, como duvido da eficácia de tal material, nem me dou ao trabalho de começar. Mas como reclamar e falar mal é de graça e felizmente também uma de minhas virtudes, irei discorrer sobre o assunto.

Voltando ao meu manual de sobrevivência em uma viagem de busão, eu finalmente percebi que tudo não passa de uma questão de estratégia. Desde o momento de entrada, passando pela catraca, até a saída, há que se planejar cada passo.

Ao entrar, a atitude mais sábia é rapidamente identificar onde se localiza a porta de saída. Mas atenção, muita atenção. Com o advento dos corredores de ônibus, hoje em dia, o que acontece é que normalmente temos duas portas de evacuação, uma no lado esquerdo e outra no lado direito do veículo e que se abrem de acordo com o posicionamento do ponto de parada.

Assim, além de verificar o local de saída, é necessário também saber se o seu ponto final se localiza à esquerda ou à direta do busão. O que nos leva ao passo seguinte. Sabendo exatamente onde está a saída, o caminho que deve ser percorrido para chegar até ela e o tempo de sua viagem, você pode calcular com exatidão qual seria o seu melhor posicionamento no busão. Aquele em que você não vai atrapalhar e principalmente ser atrapalhado por ninguém.

Eu explico. Você pode não cruzar a catraca e se posicionar perto da porta de entrada que não será utilizada naquele tempo para evitar o contato com os passageiros que não sabem onde se posicionar. Como você também pode optar por cruzar a catraca e ficar perto da porta de saída que não vai se abrir pelo mesmo motivo. Agora atenção crianças, muita atenção. Em hipótese alguma se aloje permanentemente empoleirado na porta efetiva de saída. Nunca, em hipótese alguma. Ter que descer e não conseguir porque um babaca resolveu ficar parado ali na portinha é o fim do mundo e pode levar qualquer ser humano normal a um ataque de nervos seguido de golpes de faca sem dúvida nenhuma por justa causa.

Deste modo, seguindo todas essas indicações à risca, sua jornada e a dos demais passageiros será claramente muito mais agradável e fácil de suportar. Fica provado então, que a sobrevivência nos coletivos não é uma questão de espaço, como muitos podem pensar, mas sim, uma questão de estratégia.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Quem não tem colírio usa peneira – uma história de café, bem escuro

Tirei esse post para reclamar da hipocrisia humana, ou seria hipocrisia brasileira? Bem, para começar, nada melhor do que o assunto do momento, tudo bem que já esfriou, mas nunca é tarde.

Assim, parafraseando algo que li outro dia e que resume bem a situação: um avião derrapa, não freia, bate, explode, mata 200 pessoas e o culpado é o dono do puteiro? Realmente na putaria que está o espaço aéreo brasileiro, nada mais natural do que culpar o cafetão.

Mas o que realmente me atraiu nos últimos dias foi algo que li num site de notícias sobre arte e cultura. Estão culpando a Chilli Beans, sim, aquela fabricante de óculos escuros que conquistou o mercado nacional nos últimos anos, de incentivar, intermediar e distribuir “drogas sintéticas”.

Você tem uma marca. Para que ela venda mais, é necessário que a ela seja agregado (odeio essa palavra, mas vai lá) algo impalpável, um sonho, um desejo, uma ideologia. Tem marca que se associa com a novela das oito, outras com roupas de surf, algumas com música, tem uma que usou até cowboys. O importante é nunca estar sozinho, sempre pertencer a algum ou vários nichos da sociedade.

Pois bem, percebendo sua grande aceitação em um tipo de consumidor, a Chilli Beans, entre outras coisas, resolveu colocar sua marca como apoio em eventos de música eletrônica e até vender convites de festas em suas lojas. Entretanto, música eletrônica já estava atrelada a outra coisa no consciente coletivo: “drogas sintéticas”. Deste modo, nada mais natural do que fazer a associação “lógica”: música eletrônica está para drogas, assim como a Chilli Beans está. Ou seja, a empresa distribui ecstasy nas festas que apóia. É tão óbvio, como é que eu nunca tinha percebido isso antes? Foi preciso que um dos gênios investigativos da nossa polícia fizesse tal descoberta e abrisse um inquérito contra a fábrica de óculos para eu me desse conta.

Simplesmente um absurdo. Para o bem da sociedade, é necessário proibir essas aglomerações recreativas junenis com música alta repetitiva e consumo indevido de drogas. Entretanto como não há como comprovadamente culpar ninguém, há que se achar um culpado, qualquer que seja. E como foi feito com o dono do puteiro, no caso do acidente da TAM, resolveram culpar o dono da loja de óculos escuros. Claro.

Mas pensando bem, isso faz todo o sentido, porque nessa mania brasileira de tapar o sol com a peneira na hora de achar um culpado, nada como pôr a culpa nos óculos escuros.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Mamãe quero ser voyeur – uma historia de café, observado

Nunca o voyeurismo esteve tão em alta na humanidade. Provavelmente isso deve estar associado com o fato de não se ter mais tempo pra cuidar das nossas vidas e em contrapartida resolver cuidar da vida dos outros. Mas por que não cuidar do que é seu no pouco tempo que resta? Porque não é tão divertido e, principalmente, não é tão fácil.

Você passa o dia inteiro trabalhando em frente ao computador. Não tem tempo de ir ao banco, ao cabeleireiro, ao mercado, à biblioteca, tomar café com um amigo ou almoçar com a mãe. O que você faz então? Usa aquele seu tempo ocioso no trabalho para saber o que as outras pessoas, tão miseráveis quanto você, estão fazendo. Fuça o orkut, checa o fotolog, flickr ou outro site de hospedagem de fotos para saber se os outros estão tendo tempo de viajar, tirar férias, fazer baladas, conhecer gente nova. Não satisfeito, você acessa o blog para saber o que seus amigos têm feito, o que está passando na cabeça deles, se algum pretende se matar ou largar tudo e ir vender coco na praia.

Quando todo o tipo de informação relevante sobre as pessoas que você conhece pessoalmente se esgota, você parte então para a vida das pessoas públicas. Checa os canais de fofoca da internet. Lê todo o tipo de notícia pastelão, vê quem são as celebridades grávidas da vez, quem se separou, quem se juntou, quem apareceu sem calcinha, quem deixou os peitos vazarem do tomara que caia, e principalmente, as gafes e barracos do momento.

Findo o dia de trabalho e com ele todas as novidades sobre a vida dos outros que você absorveu na internet, é hora de voltar para casa e cuidar da sua própria vida. Ou não. Você chega em casa e vai ver tv. Primeiro o noticiário para se atualizar e em seguida algum programa para se divertir.

Big Brother e aquelas pessoas que têm que suportar umas as outras, confinadas naquela casa. Ou então você pode ver o que acontece quando duas famílias trocam suas esposas. Você pode ainda observar o sofrimento de mães que têm que lidar com crianças insuportavelmente sapecas, enquanto agradece por sua vida não ser tão difícil assim. Depois, pode acompanhar a viagem de um grupo de amigos pelo mundo, ou uma competição. Pode ver as pessoas fazendo tatuagens, ali na tela da sua televisão. Caso você prefira, pode acompanhar de perto as intimidades e dia a dia de uma celebridade, ou pode ver como é trabalhar nesse, ou naquele restaurante, ou como é ser uma modelo, cantor, estilista de sucesso.

Enfim, a TV lhe proporciona a incrível oportunidade de viver a vida de quem você quiser, da pessoa mais miserável à mais feliz, desde que isso lhe traga satisfação pela tristeza ou alegria do outro e, primordialmente, por você não ter que ocupar esse precioso tempo se preocupando com a sua vida. O que fazer daqui para frente, o que fazer no futuro e é claro, o que fazer agora.

Felizes eram aqueles que se contentavam somente em ficar debruçados em uma janela observando o movimento passar e comentando com a vizinha do lado. Ao menos ainda se saía de casa, conversava-se com o vizinho e havia movimento real para se observar.

Hoje tudo chega até você sem que você se dê conta, perceba, ou tenha tempo para decidir se é bom ou ruim. Simplesmente é mais um hábito adquirido para a distração fácil e despreocupação com o que fazer no dia de amanhã e com a própria vida. Afinal, é muito mais fácil ficar vivendo a vida dos outros, que já está pronta e decidida, às vezes até com a ajuda de um diretor, do que se chatear e gastar toneladas de energia procurando fazer algo com a própria rotina.