Travessia no busão, uma questão de estratégia – uma história de café, apertado
Eu não dirijo. E para sorte e futuro da nação, é bom que essa situação não se altere. Sendo assim, quando eu tenho que me locomover, uso meus pés ou o busão. E depois de anos de prática e treino, eu desenvolvi minhas próprias táticas de sobrevivência nesses meios de locomoção tão incertos.
Na realidade, eu gostaria de elaborar e distribuir um manual com normas de boa conduta dentro dos coletivos. Entretanto, como duvido da eficácia de tal material, nem me dou ao trabalho de começar. Mas como reclamar e falar mal é de graça e felizmente também uma de minhas virtudes, irei discorrer sobre o assunto.
Voltando ao meu manual de sobrevivência em uma viagem de busão, eu finalmente percebi que tudo não passa de uma questão de estratégia. Desde o momento de entrada, passando pela catraca, até a saída, há que se planejar cada passo.
Ao entrar, a atitude mais sábia é rapidamente identificar onde se localiza a porta de saída. Mas atenção, muita atenção. Com o advento dos corredores de ônibus, hoje em dia, o que acontece é que normalmente temos duas portas de evacuação, uma no lado esquerdo e outra no lado direito do veículo e que se abrem de acordo com o posicionamento do ponto de parada.
Assim, além de verificar o local de saída, é necessário também saber se o seu ponto final se localiza à esquerda ou à direta do busão. O que nos leva ao passo seguinte. Sabendo exatamente onde está a saída, o caminho que deve ser percorrido para chegar até ela e o tempo de sua viagem, você pode calcular com exatidão qual seria o seu melhor posicionamento no busão. Aquele em que você não vai atrapalhar e principalmente ser atrapalhado por ninguém.
Eu explico. Você pode não cruzar a catraca e se posicionar perto da porta de entrada que não será utilizada naquele tempo para evitar o contato com os passageiros que não sabem onde se posicionar. Como você também pode optar por cruzar a catraca e ficar perto da porta de saída que não vai se abrir pelo mesmo motivo. Agora atenção crianças, muita atenção. Em hipótese alguma se aloje permanentemente empoleirado na porta efetiva de saída. Nunca, em hipótese alguma. Ter que descer e não conseguir porque um babaca resolveu ficar parado ali na portinha é o fim do mundo e pode levar qualquer ser humano normal a um ataque de nervos seguido de golpes de faca sem dúvida nenhuma por justa causa.
Deste modo, seguindo todas essas indicações à risca, sua jornada e a dos demais passageiros será claramente muito mais agradável e fácil de suportar. Fica provado então, que a sobrevivência nos coletivos não é uma questão de espaço, como muitos podem pensar, mas sim, uma questão de estratégia.