E fez-se a luz – uma história de chá, alumiante
“Quem controla a luz, nos controla”. Li isso em algum lugar outro dia e para mim, fez muito sentido. Depois que o homem descobriu o fogo e obteve poder sobre a luz, (antes ele dependia da boa vontade do sol, da lua e das estrelas para organizar seus afazeres), o ser humano sentiu, pela primeira vez, que poderia dominar o mundo. Equipado com mágicos poderes capazes de transformar a noite em dia, saiu em busca de suas vontades, mudou seu destino, fez história à humanidade.
Que estranho fascínio é esse que temos pela luz? Quantas vezes você não se pegou totalmente absorto e distante preso num feixe de luz. Olhando a lua, olhando as estrelas, fogos de artifício e por mais doloroso que as vezes seja, olhando diretamente para o sol, tentando entender sua grandiosidade, captar sua energia.
Na tentativa de entreter com a luz, desenvolvemos espetáculos pirotécnicos, luminosidades de cores diferentes, máquinas gigantes, telões. Quem iria imaginar que grande parte de nós, diariamente, gasta ao menos um terço do dia trabalhando em frente a uma caixa luminosa, para depois relaxar hipnotizado em frente à outra caixa luminosa no conforto do lar.
Que tanto poder tem essa luz que petrifica, paralisa como um olhar de Medusa? Perdidos entre luzes de sinalização, de segurança, faróis, luminárias e lanternas, vamos seguindo apenas os caminhos iluminados, temendo a escuridão, fugindo do que não está exposto. Não me espanta que o símbolo para uma boa idéia seja uma lâmpada acesa e que o século XVIII, chamado de o “século das luzes”, seja marcado pelo Iluminismo, um movimento de intensa criação intelectual marcado pela valorização da razão sobre todas as outras coisas, enquanto seu oposto direto, a suposta ausência de evolução por parte da raça humana, a Idade Média, seja a Idade das Trevas.
E todas as luzes de Natal? As cidades se transformam em grandes pólos luminosos, milhares, trilhares de lâmpadas, coloridas, piscando, pequenas, grandes, espalhadas, concentradas, expostas, embutidas. Crianças, velhos, jovens, adultos, todos embasbacados em frente à decorações megalomaníacas, árvores piscantes, enfeitiçados, atraídos como mariposas à luz.
Isso sem contar a nossa incontestável dependência à energia elétrica. O que seria de nós sem a geladeira, o chuveiro quente e todos os outros milhares e indispensáveis aparelhos eletrônicos que usamos e ansiamos dia após dia?
Não, de modo algum, estou aqui condenando a luz, o fogo, ou a energia elétrica. Mas é interessante pensar que, naquele momento em que o homem descobriu que poderia controlar a luz, ele também se tornou escravo dela, abrindo espaço para uma nova forma de dominação, as vezes imperceptível, mas que já faz parte até de nossos instintos. Sendo assim, se a luz nos controla, me parece aqui inegável que aquele que controla a luz tem o poder sobre todos nós.