Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá
Minha terra tem cimento onde rouquejam os motores
Tenho uma pequena fascinação por palmeiras. Indissociáveis às praias, ainda assim também cabem nas cidades. Gostaria que coubessem mais. Mas existe o concreto.
Mesmo assim, contrariando os escapamentos, o piche, a avareza e a pobreza de espírito, meus coqueiros e outras palmeiras ainda encontram alguns pequenos paraísos para viver.
Gosto de observá-los silenciosamente, disfarçando um sorriso. Que sorrir sem motivo em São Paulo é atestado de vagabundagem. A gente não se permite. Mas fico andando pelas ruas e contabilizando um coqueirinho aqui, uma palmeira imperial ali.
Às vezes paro e fico tentando apreender todo o momento. Reparo no detalhe das folhas. Na altura. No desenho do tronco. No contraste com o azul do céu. Na sombra do contra luz. E meio que hipnotizada, tenho que lembrar de voltar a me mover. Que mais uma vez, ficar parado em SP é coisa de quem não tem o que fazer.
A impressão que tenho é que palmeiras são árvores felizes, calmas, satisfeitas. Passam uma tranquilidade, uma alegria. A mim, parece que estão sempre sorrindo. Por isso sorrio a elas também. Acho fascinante que na dureza (natureza) de São Paulo seja possível crescer algo assim. E faço questão de observá-las. Principalmente, porque sei que a grande maioria dos transeuntes não lembra ou tem vontade de fazê-lo. E elas estão ali, sacudindo delicadamente, silenciosamente, pedindo apenas um olhar.
Minha terra tem cimento. Minha terra tem palmeiras. Por favor, calem os motores. Vamos ouvir os sabiás.