Alguém substitui o Fordismo, por favor??? – um conto de café, em série
Já está mais do que na hora dos empresários mudarem seus métodos de gestão de empregados. A revolução industrial teve início no século retrasado e muitas das práticas empregadas hoje em dia ainda remetem àqueles tempos.
Obviamente, o Fordismo foi uma das invenções mais importantes para os métodos de trabalho, mas é obvio também que essa fórmula não pode ser aplicada a todos os tipos de empregos, já que muitos deles não são tão mecânicos quanto aqueles a que o Fordismo se dirigia.
Todas as especializações profissionais que existem hoje em dia devem agradecer ao Fordismo por existirem, já que, antes dele, um médico, era apenas um médico, e hoje em dia ele pode ser um geriatra ou ginecologista.
Por outro lado, aplicar o mesmo método para trabalhos intelectuais pode ser altamente catastrófico. É muito leviano medir a capacidade de um destes profissionais apenas pela quantidade de trabalho produzido, ou tempo utilizado para tanto. A atividade mental demanda tempo e dedicação e depende de outros fatores alheios a máquinas.
Quantidade não é qualidade, é por isso que existem pesquisas quantitativas e qualitativas para medirem coisas diferentes, mas, ao que tudo indica, devido à grande concorrência do mercado, em todas as áreas, hoje em dia, qualidade para o empregador já virou sinônimo de quantidade. Quanto mais seus escravos produzirem, maior o faturamento e melhor para o bolso, independente da qualidade do produto final. E o produto final, nessa massificação incessante, está perdendo cada vez mais a sua qualidade.
Ou você acha que a queda da qualidade das obras literárias, cinematográficas, televisivas e todo o resto é reflexo do quê? Hoje em dia, as pessoas são pagas por quantidade e não por qualidade, e quanto maior a quantidade de coisas criadas, menor a sua qualidade, isso porque, no processo criativo, muito há de ser descartado antes do alcance do produto final, entretanto, nessa fúria pela obtenção do lucro imediato, nada mais é deixado de lado. Tudo vira objeto de consumo, tudo vira moda, tudo vira desejo.
Quando no início do século passado vieram os direitos trabalhistas, com jornada de trabalho semanal de 40 horas, férias obrigatórias e 13º salário, todo mundo achou que a alegria estava garantida, mas é muito fácil ver que as coisas não são bem assim. Não é possível aplicar essa fórmula mirabolante a um trabalho que dependa de sua capacidade intelectual por exemplo.
Não é possível exigir que fulano passe 8 horas na firma, batendo cartão de ponto para tudo e qualquer coisa e produza como um funileiro. Há dias em que o volume de trabalho é mais intenso, há dias em que não há nada o que se fazer. Não há motivos para que este ser humano esteja enjaulado por todas essas horas rezando para o tempo passar. É isto o que os empregadores ainda não perceberam.
Não perceberam que quando estão comprando a capacidade intelectual de seus empregados, não estão pagando por porcas e parafusos, mas sim por bens muito mais intangíveis e difíceis de mensurar. Não é a quantidade de palavras escritas que determina a qualidade de um texto, e sim a sua originalidade e relevância. E como ser original e relevante quando não te pagam por isso, mas sim pelo tempo em que você fica sentado em sua cadeira estragando sua retina na frente de uma tela de computador? Impossível. Da mesma forma que é impossível comparecer a todas as suas “obrigações” em horário comercial quando você trabalha exatamente neste horário.
E, há de se convir que direitos trabalhistas, hoje em dia, são realmente coisa do passado. É difícil um emprego que respeite todos os direitos do trabalhador, que ofereça férias a seus empregados, que pague horas extras ou não extrapole a carga horária semanal. O que eles querem é sempre mais, oferecendo sempre menos e cobrando uma produção dissociada da realidade.
Os empregadores do 3º milênio deveriam percebem que o mundo mudou, que a internet aproximou e também distanciou as pessoas, que o trânsito deixou nossas vidas inviáveis, que as doenças da alma e da mente já são muito mais perigosas do que as doenças do corpo e que por esses e outros milhões de motivos todos os modos de trabalho e cobrança dos mesmos deviam ser adaptados e reformulados de acordo com a nossa realidade.
No português claro, o empregado que está com tempo ocioso deveria poder usar seu tempo para si, ao invés de fazer presença, e quando este mesmo profissional estiver em produção, deve possuir tempo suficiente para aproveitar toda a sua capacidade intelectual, não usar apenas subterfúgios de fácil absorção para as massas no ímpeto de se livrar do pepino.