Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

terça-feira, agosto 07, 2012

São Paulo é uma questão de gestalt – uma história de chá, fora de foco


A luz dourada abrilhanta as folhas verdes.
O céu anil contrasta em destaque.
O vento movimenta a cena, acompanhando o ritmo da melodia que ouço.
Enquanto isso, a crosta de poluição no horizonte me desgasta.

São Paulo é uma questão de gestalt.

Existe beleza. Existe tristeza. Existe poesia. Existe concreto.
Cada um vê o que quer. Do jeito que quer. Quando quer.
Os invisíveis nas calçadas.
O lamento silencioso dos rios.
O desespero nos escritórios.
A solidão de árvores raquíticas e uns tantos ipês.

E como ficam belos os ipês no outono tropical.
De longe parecem ramalhetes de flores secas.
Rosas, roxas, amarelas. Incandescentes.
No quadro. Meu quadro. De fundo azul de brigadeiro.

Aqui, cada um pinta o que quer.
Cada um colore ou descolore como acha.
Mesmo que o cinza impere.
Mesmo que a indiferença prevaleça.
Mesmo que a enganação seja rainha.

Eu escolho o que quero ver hoje.
Provavelmente não é o que gostaria de ver amanhã.
Eu me engano. Da mesma forma que sou enganada diariamente.
E fecho os olhos. E tento não ouvir.
E quando abro, me esforço para ajustar o foco novamente.

quinta-feira, agosto 02, 2012

É bonito ser doente – uma história de café, passando mal


Tenho a impressão de que, hoje em dia, estar doente tá na moda. Talvez seja um problema com o meu universo amostral, já que eu e meu círculo próximo de amigos já entramos na idade de Balzac, abandonamos a ilusão juvenil da imortalidade e já passamos a conviver com as imagens de um futuro senil.

Talvez seja porque vivo em São Paulo onde a poluição ataca os pulmões, o trânsito ataca o estômago, os políticos atacam os rins e o progresso ataca o coração.

Talvez seja tudo isso junto misturado e reforçado com excesso de informação, urgência de resultados e muita falta de paz de espírito.

É competição pra ver quem toma o tarja preta mais mal encarado, quem precisa repor mais vitaminas e nutrientes, quem fez os exames mais absurdos e quem vai nos médicos mais da moda. Sem contar a terapia, é claro. Todo mundo precisa de terapia. É preciso se encaixar à normalidade das coisas. Mesmo que a normalidade seja a necessidade da terapia.

Eu entendo, tem muitos procedimentos que são absolutamente necessários, tem pessoas que realmente precisam disso e daquilo, a ciência evoluiu para nos salvar. Se hoje a expectativa de vida é alta, se deve a todas essas medidas de bom senso dos atuais cidadãos.

Mas, sinceramente, acho que rola um exagero aí. Um grande exagero. As pessoas acabam procurando pelo em ovo, sarna pra se coçar. Vão fuçar num negocinho e de repente estão gastando os tubos em tratamentos alternativos ou de última geração. Porque a medicina também é um negócio muito lucrativo hoje em dia. E todo mundo tem que garantir o seu. E quanto mais gente neurótica procurando mais assunto pra se preocupar, melhor.

Eu que vivo dizendo que não quero ser salva pela ciência, prefiro adotar as preocupações do tempo dos meus avós. Comer bem, sair pra dar uma volta (a pé) pra espairecer a cabeça e dormir bem. O resto é consequência.