Fila de banco sempre me
desperta um sentimento metafísico.
É aquele negócio,
você tá ali, ocioso, no meio de desconhecidos, olha pro tempo, o
tempo não passa. Aí você lembra que o tempo é relativo. Então
resolve contar quantas pessoas têm à sua frente. Analisa o espaço
que estão ocupando. Faz contas para tentar prever quanto tempo vai
demorar pra chegar a sua vez e, de novo, se lembra que tanto o tempo,
quanto o espaço são relativos.
Nesse preciso momento
em que toda a teoria da relatividade passa diante dos seus olhos, e
você se depara com a triste realidade em que está preso, é que
cede aos devaneios, principalmente os existencialistas.
Porque, né, não
existe lugar mais propício para um existencialismo do que fila de
banco. Todas as questões fundamentais da vida começam a se esfregar
libidinosamente na sua cara.
O que é que eu tô
fazendo aqui?
Qual é o sentido disso
tudo mesmo?
Não tem um jeito de
acabar com isso mais rápido?
Será que falta muito
pro fim?
O que eu fiz para
merecer isso?
Por que é que eu tenho
que aguentar esse tipo de coisa dessas pessoas?
E a lista poderia ser
muito mais extensa, beirando é claro um niilismo pouco poético, mas
talvez até um tanto tuberculoso, porém é melhor parar por aqui.
Aí então esses
pensamentos quase-suicidas dominam a sua mente durante toda a sua
via-crúcis até atingir a boca do caixa, não sem antes ser
interpelado por um ou dois vovôs e vovós falantes e muito bem
humorados (eles já superaram o existencialismo há muito tempo), e
finalmente quando você é atendido, lhe ocorre a iluminação final,
a grande epifania.
Vou fechar essa porra
dessa conta nesse banco. Morte aos porcos capitalistas.