Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quarta-feira, novembro 29, 2006

E porque eu sou uma daquelas pessoas que não gostam de Natal – uma história de chá de gengibre

Antes de mais nada, não, definitivamente não, eu não tenho nenhum trauma de infância relacionado à referida data. Sempre ganhei presentes, o Papai Noel nunca tentou me atacar e descobrir que, na realidade, o bom velhinho era apenas mais um homem gordo de barba não foi o estopim de nenhum drama familiar. Eu apenas não gosto do Natal por uma série de razões (algumas racionais, outras nem tanto) que eu fui juntando ao longo dos tempos. Eis aqui algumas delas:

Eu simplesmente odeio toda a falsidade que o maravilhoso espírito de Natal nos traz. As pessoas se abraçam sem que queiram se abraçar, desejam boas festas sem reais boas intenções, as famílias se reúnem e, no fim da festa, ficam uns fuxicando da vida dos outros, as promoções das lojas são enganosas e os vendedores simpáticos em demasia.

O trânsito vira uma merda, o comércio vira uma merda, andar na rua vira uma merda, viajar vira uma merda. Tem muita gente todo tempo em todo o lugar. É gente querendo comprar presente, gente querendo chegar mais cedo, gente querendo comer e beber e comemorar. Tudo que fulano não fez o ano todo, resolve fazer nos 45 do segundo tempo, achando que vai mudar o mundo. Ho ho ho, a se vai!

E tem aquele povo que acha o máximo realizar trabalho voluntário só no Natal. Puta hipocrisia, não fez nada o ano todo, quase atropelou velhinha, cuspiu na cara de menino de rua, amaldiçoou os projetos sociais e agora, só porque é Natal (ho ho ho, mais uma vez), acha lindo ajudar os “menos abonados”, porque afinal, todo mundo merece ser feliz nessa data tão festiva.

Tá, aí você vai dizer que eu sou uma pessoa sem coração, que o espírito de Natal não está relacionado com o Papai Noel e presentes, mas sim com o nascimento do salvador e etc. Bem, até onde eu sei, em 25 de dezembro era comemorada uma festa pagã que celebrava o refortalecimento do sol com o fim do solstício de inverno, trazendo a vida de novo à terra e como a Igreja Católica precisava ganhar essa também, colocou uma data imbatível e incontestável no lugar e fez-se a belíssima história de natividade. De certa forma, sendo isso uma data a ser comemorada pelo calendário religioso mais dia ou menos dia, não faz muita diferença se é 25 de dezembro ou 13 de maio, a diferença está na afetação das pessoas por causa da tal data, tudo muito artificial, porque no fim das contas, ninguém nem mais presta atenção no aniversário de quem está se comemorando. O importante é ver e ser visto. Eu ajudei esta instituição, organizei essa festa, ganhei isso naquela promoção, dei aquilo para meus filhos.

Agora, o melhor de todos é o Papai Noel nas suas roupas polares, bochechas rosadas e barba branca desfilando no nosso calor tropical de 40 graus. Pobre bom velhinho. E haja bondade para passar dias assando naquela roupa. Sinceramente, gosto mais do Coelhinho da Páscoa, branquinho, olhos vermelhos, pulos altos e sem muita história.

Na realidade, tem sim uma coisa que eu gosto no Natal. Rudolph, a rena do nariz vermelho. Tem coisa mais engraçada do que um veadinho voador que ainda tem um GPS no nariz que por acaso é vermelho? É fantástico. Definitivamente meu preferido.

Mas realmente, o melhor do Natal é quando ele acaba. É claro que eu gosto de toda a comida e bebida boa que rola e dos presentes, mas não tem nada melhor do que o fim do Natal e o início das comemorações de Ano Novo. Aquele clima de melancolia e bondade exagerada passa, dando espaço a sentimentos muito mais sinceros e naturais. As pessoas se deixam despir de tudo que é ruim, se concentram em se divertir e fazem questão de serem elas mesmas e fazerem tudo que gostam no último e primeiro dia do ano, afinal, é praticamente carnaval, pode tudo.

E se você foi ou não foi um bom menino o ano todo, isso pouca diferença faz. Porque no ano que vem, vai ser de novo tudo a mesma coisa.

E quanta saliva desperdiçada – uma história de café, frio

Eu definitivamente não acredito em consenso, muito menos em unanimidade. Toda vez que as pessoas tentam conciliar opiniões diferentes sai merda. Primeiro porque ninguém fica satisfeito, segundo porque a decisão escolhida é sempre um híbrido mutante, um frankstein de gostos e vontade diferentes, com nenhuma afinidade entre si a não ser seus opinadores.

Discutir ponto de vista é uma coisa, agora ter que chegar a uma conclusão comum e que ainda agrade a todos é utopia. Isso simplesmente não existe. Felizmente as pessoas têm opiniões e gostos diferentes e deveriam se sentir felizes e orgulhosas por isso, ao invés de perder tempo tentando convencer os outros da mesma coisa, ou discordando da teoria alheia.

Pensa só, se todo mundo agisse igual, pensasse igual, gostasse igual, odiasse igual e reclamasse igual, seria absolutamente impossível de convivermos uns com os outros. Que graça teria conversar com alguém que gosta de tudo o que você gosta, concorda com tudo o que você diz e não te surpreende com nenhuma sugestão bizarra?

Odeio quando as pessoas resolvem fazer reuniões para “decidir coisas”. Não tem essa de decidir coisas em conjunto, principalmente quando a decisão em questão ainda inclui o que supostamente outras pessoas estariam pensando acerca daquilo que será decidido. Se já é difícil entrar num acordo com as nossas opiniões, como ainda pode-se querer adivinhar como um outro alguém de fora pensaria?

Quando é um grupo de pessoas pensando em conjunto algo novo, até tudo bem. A coisa é bem mais possível, se bem que leva horas até se chegar a um senso comum. Agora, quando todo mundo já tem um conceito muito bem formado na cabeça, a discussão é inútil e leva a lugar algum. Uma perda de tempo, paciência, bom humor e disposição.

Admiro as pessoas que se esforçam para tentar chegar a um meio termo, alcançar uma suposta alegria e contentamento coletivo, mas cá entre nós, nada nunca é perfeito, vai ter sempre alguém reclamando que a idéia original era melhor, que fulano não tinha nada que ter metido o bedelho e que sicrano só dá pitaco inútil. O melhor mesmo é discordar de tudo, fazer cara de descontentamento e colocar lenha na fogueira. E no final de tudo, quando a galera estiver subindo nas tamancas e discutindo o indiscutível, apenas sair de ladinho e dar risada de tanta barulheira.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Manifesto Vespertino Ensolarado – uma história de chá, de girassol

Numa belíssima tarde de sol, todo cidadão de bem (o que quer que isso signifique) deveria ter direito a:

• Sair do trabalho na hora do almoço como se nunca mais fosse voltar (e efetivamente voltar apenas na segunda feira).

• Beber uma cerveja estupidamente gelada com os amigos sem ter nada melhor para se preocupar.

• Estalar os dedos e miraculosamente se materializar na praia usando apenas trajes de banho, óculos de sol, uma água de coco numa mão e lulinha à dorê na outra.

• Esquecer da vida afundado numa rede confortável, ouvindo o barulho do mar e olhando para a linha reta do horizonte.

• Cochilar profundamente na varanda, embalado pelo barulho do vento na copa das árvores e o calorzinho do sol entrando sorrateiramente pelo vãozinho da laje.

• Tomar um sorvete enorme com calda e cobertura, fazer sujeira e rir contente da vida com toda a bagunça.

• Estender o lençol no gramado verde da praça, embaixo de uma árvore, e dormir sentindo o cheiro de mato e o tagarelar dos passarinhos.

• Mergulhar de cabeça no mais cristalino dos lagos pra depois se aquecer feito lagarto numa das pedras da margem.

• Se enfiar sem medo de ser feliz embaixo das águas congelantes de uma cachoeira e só sair depois de sentir o corpo e a alma limpas.

• Sentar no alto de uma montanha e esperar o sol se pôr, ouvindo enquanto isso, todas as músicas preferidas de sua vida.

• Andar de bicicleta em chão batido de terra, dando cavalinho de pau no fim de cada reta.

• Ficar boiando nas águas límpidas de uma piscina, sentindo o sol bater na cara, enquanto balança os pezinhos

• Tomar lanchinho da tarde na casa da vó. Pão fresquinho saindo do forno, café passado em coador de pano, manteiga aviação e aquele cheirinho de estou em casa.

• Correr livremente pela rua, sentindo o vento bater na cara e a sola dos pés mal tocar o chão.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Leve-me ao seu líder – uma história de café, mal tirado

Ser consumidor é uma arte. Ser vendedor também. Eu que já estive dos dois lados do balcão posso dizer que, quando algum problema aparece, nenhum dos papéis é legal. Entretanto, como o consumidor tem sempre a razão, na maioria das vezes, é mais fácil ser aquele que consome, se bem que os vendedores sempre acham um jeito não muito educado de revidar.

Desde pequena, assistindo papai e mamãe lutarem bravamente por suas vontades, desenvolvi também meu próprio modo de argumentar e obter o que é meu por direito nesta constituição, naquela, ou em qualquer estatuto de qualquer órgão que ofereça validade às minhas palavras.

Não importando qual seja o erro em questão, você sempre começa a discussão de forma civilizada. Utiliza os verbos nos tempos corretos, vocativos amenos, tom de voz afável. À medida que a conversação vai esquentando, as coisas mudam. Os verbos tornam-se imperativos, as pausas inexistentes e o volume só aumenta. Depois de um certo tempo, a coisa passa a ser pessoal. Não faz mais diferença quem tem razão, em qual artigo da lei vocês estão se baseando e muita vezes, ninguém nem se lembra qual foi o motivo que deu origem à confusão toda. Chega um momento em que o importante é vencer, não importando quais meios serão utilizados para esse fim. Você quer ter razão, quer ser indenizado, coberto de desculpas, presentes e elogios. Do outro lado, o acusado quer fazer você sofrer, torturar lentamente para que se arrependa de, um dia, ter sequer insinuado fazer o registro de tal reclamação.

É nesse estágio que sempre chega o meu momento favorito: Leve-me ao seu líder. Essa coisa de “eu posso falar com o seu supervisor, por favor?” ou “onde está o gerente?” sempre me divertiu incrivelmente. Esse negócio de missão de paz, ou missão de guerra, em que os líderes das duas nações ou espécies se encontram, discutem de “igual para igual”, afinal de que vale ficar batendo boca com os peões quando se pode desafiar a rainha? De um momento para o outro, tudo muda. Numa solenidade velada, o então chamado líder aparece e tem-se, enfim, o embate final. As duas partes se cumprimentam formalmente e até cordialmente. Os argumentos são expostos, cada lado toma seu partido. Politicamente, o líder tenta encaminhar a solução para um consenso. Num tribunal improvisado, o réu é julgado, condenado ou absolvido em questão de minutos.

Finda a discussão, normalmente é o consumidor que sai feliz, afinal, ele tinha a razão. Enquanto isso, a gangue de empregados já prepara uma retaliação, formula piadas e começa a recontar a história de forma cinematográfica para todos aqueles que não tiveram o prazer de presenciar mais uma comédia da vida servindo as pessoas.

Quando uma dessas situações termina, você, o consumidor, exausto depois de falar com 5 departamentos, 12 secretárias, 40 esperas telefônicas (ou não) e uns tantos atendentes bem mal educados e imprestáveis, antes do supra citado chefão, normalmente sai feliz com seu feito. Obviamente, você perdeu todos os compromissos que tinha marcado, sua cabeça dói e você nem sabe o que fazer com aquele monte de chaveiros e toalhinhas que ganhou, mas a sensação de ter vencido uma batalha, (porque a guerra, meus amigos, contra o mercado inóspito continua) é inebriante.

Do outro lado, vendedores, garçons, atendentes, gerentes, donos de estabelecimento indignados tamanha a quantidade de picuinhas que são obrigados a agüentar dia após dia desses consumidores mal acostumados, mimados, sem paciência ou total noção de humanidade, se reúnem e riem à custa de tanta energia gasta, às vezes, com tão pouco.

Não são raras as ocasiões em que é fácil pôr um fim à situação logo de cara. Entretanto, temos duas classes lutando. No canto esquerdo, com sua arrogância, prepotência e falta de tempo, o consumidor. No canto direito, com seus gerúndios, frases vazias e falsidades, o vendedor. Vivendo um embate eterno, eles nunca vão se entender mesmo. Então, nessas horas em que o choque é inevitável e alguém vai ter que bater e alguém vai ter que apanhar, dispam-se de suas meias palavras, porque sempre, invariavelmente, aquilo que foi o estopim do acontecimento é e será esquecido e o mais importante, indubitavelmente, será a decisão final e qual dos egos vai se sagrar como o vitorioso da vez.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Terrorismomania (o?) ou fobia – uma história de café, turco ou árabe

Odeio essa mania de terrorismo (e nesse momento, o google arregala os olhos para esse texto porque eu usei a palavra “terrorismo” [ops, de novo], contribuindo para a teoria da conspiração).

Mas como eu ia dizendo, odeio essa mania de terrorismo (3). As pessoas estão sempre exagerando as coisas para a pior, pintando quadros mais atemorizantes, instaurando um clima de terror e medo no ar. Seu chefe chega e diz que hoje o dia será foda. Você pergunta o porquê e ele apenas diz que vai ser beeeem foda. Nisso, a tensão do ar já pode ser cortada com faca, ou serra elétrica, dependendo do grau de paranóia do restante dos presentes. Ninguém sabe o motivo, todo mundo só sabe que está fudido, ninguém sabe que horas vai embora, quanto mais vai ter que trabalhar, se alguém será demitido, quem vai gritar com quem, quem vai mandar quem aonde e aquele clima de insegurança não deixa mais ninguém em paz. Mesmo que, no fim do dia, tudo acabe bem, todos saiam no horário e nada de pior aconteça, (mesmo porque ninguém mais se preocupou em perguntar o que de fato aconteceria), você teve um dia de cão com aquela monstruosa pulga atrás da orelha, esperando apenas o pior acontecer.

Obviamente, os ambientes corporativos, ou empresariais, ou de trabalho em geral são muito propícios para essa prática de terrorismo (4) psicológico, afinal, tem sempre alguém querendo puxar o tapete de alguém, fulano que adora brincar de dar ordens, cicrano que odeia obedecer, mas será que precisa exagerar tanto? Tamanha energia desperdiçada com o lado negro da força. Dava para fazer tanta coisa melhor com toda essa carga de tensão e adrenalina, pensa só em quantas cachoeiras dava para ter decido de bote ou quantas montanhas não podiam ter sido escaladas.

É claro que o terrorismo (5) social, não faz parte apenas das relações estabelecidas através de vínculos empregatícios. Você pode encontrar sua manifestação nas mais diversas formas de atividades/relações humanas. Pais e filhos, por exemplo, terrorismo (6) de primeira. O filho que não respeita o pai, simplesmente o teme profundamente. O pai que não consegue ter uma conversa aberta com o filho e somente o afugenta, acreditando estar, assim, evitando um mal maior.

E tem também o terrorismo (7) de mercado. Compre agora. Últimas unidades. Imperdível. Olha moça, essa é a última peça, eu não posso reservar para a senhora e não sei se vai estar aqui até mais tarde, tem saído muito, sabe? Você vai fazer compras e sempre tem aquele nervosismo no ar. Será que é o melhor preço, será que é a melhor marca? E o vendedor ajuda na manutenção do terror, vão aumentar o preço amanhã, é melhor levar dois desse, só para garantir.

Você quer ir ao teatro, mas todo mundo também quer ir, afinal, são os Últimos Dias. Você tem que chegar primeiro, tem que ser mais rápido, tem que garantir seu ingresso. O que será de você se deixar de ver justamente essa apresentação imperdível desse grupo espetacular? Todo mundo já viu, ou pelo menos falou que viu e estão dizendo que logo sai de cartaz, é melhor correr.

Sem contar aqueles terrores cotidianos. Tem só um rolo de papel higiênico na despensa, é melhor sair agora de madrugada e comprar mais, vai que amanha o PCC fecha todo o comércio de novo e a gente fica literalmente na mão? Ou a variação para fumantes, tenho apenas 10 cigarros, hoje é quinta feira o final de semana já está aí, melhor comprar uns quatro maços só para garantir e ficar seguro.

Depois de tudo isso, só posso concluir que, hoje em dia, o terrorismo (8) não é mais estratégia de guerra ou ação de grupos ideologicamente organizados, é um estado de espírito. Ou você vive sob a tensão do terror, ou simplesmente você não faz parte de um ciclo de convivência e hábitos minimamente respeitáveis aos olhos dos cidadãos (de bem) do terceiro milênio.

terça-feira, novembro 21, 2006

Eu, a mulher invisível – uma história de chá, transparente

Recentemente, descobri algo muito interessante. Eu tenho poder de invisibilidade. Sim, igual daqueles super heróis dos quadrinhos, eu também posso ficar invisível, ou pelo menos não ser notada.

É muito simples, qualquer um pode tentar, não requer prática, tampouco habilidade. Apenas um pouquinho de boa vontade. O segredo está em nunca, em hipótese alguma, olhar diretamente nos olhos de alguém. Aquela história da árvore que cai no meio da floresta, se ninguém viu, não aconteceu. O processo é mais ou menos o mesmo. Se você não é visto por ninguém ou, ao menos, não se esforça para sê-lo, simplesmente você não está lá.

Faça a experiência. Andando na rua, apressado, a calçada lotada, se você não olha para ninguém, é como se nem estivesse ali. Na balada, aquele amontoado de gente, se você consegue desviar de cada olhar, é como se você não existisse, como se fosse apenas um voyeur, observando com o canto dos olhos o que os outros fazem mas, nunca, em momento algum, mantendo contato visual. A partir do momento que seu olhar encontra o olhar do outro, a mágica se quebra, cai o véu e sua capa de invisibilidade vai para o saco. Assim, é necessário, também, desenvolver um bom timing. Elaborando um modo eficaz de girar a cabeça, tendo uma visão geral da festa e sendo ágil o suficiente para não olhar ninguém diretamente nos olhos, seu sucesso nessa empreitada está garantido.

Uma das melhores situações para ativar seu poder de inexistência é no interior de lojas com vendedores chatos. Entre secando a vitrine, não descole seus olhos dos produtos, não dê confiança ao vendedor. Em poucos segundos, ele esquece de você e vai atacar outra vítima menos preparada. Logo, você está livre para transitar despreocupadamente pelo interior do espaço sem ser notado, provando o que quiser e quando quiser.

Repare que a maioria dos garçons já descobriram como ativar esse importante poder. Não sei se é instinto, se eles aprendem isso em algum cursinho obscuro ou reuniões subversivas organizadas nos fundos de grandes armazéns desocupados, o fato é que todos eles, quase sem exceção, dominam com primazia a técnica. Basta você precisar do garçom, que ele nunca está lá. Você passa horas tentando manter contato visual para pedir mais um chope, uma cerveja, uma porção de pastel ou um caldinho de sururu e ele simplesmente vai evitar sua linha de visão com maestria até que, exausto, você se vê obrigado a recorrer a alguns dos indispensáveis vocativos como “grande”, “campeão”, ou apenas “oi”, quando então ele vai se virar lentamente e finalmente olhar de relance em seus olhos, para voltar momentos depois como se aquele fosse o primeiro contato.

Reuniões malas, jantares de família, professores engraçadinhos, é muito fácil escapar de todos eles apenas usando o controle de seu olhar. Se ninguém te nota, você nunca esteve ali. Nada de falsos cumprimentos, opiniões mentidas, manifestações forçadas. Total liberdade para transitar de um local a outro sem absolutamente ser notado.

Simples como demonstrado, é muito fácil ser invisível numa sociedade, numa cidade, num ambiente em que todos estão largamente mais interessados em si mesmos ou em se promover, do que reparar se existe alguém ao lado. As pessoas realmente não fazem questão de notar, apenas de serem notadas. Assim, se você simplesmente fizer o inverso, apenas notar, sem se esforçar para ser notado, seu sucesso será absoluto e a visão de espectador desse mundo bizarro pode ser muito mais gratificante do que os louros do estrelato.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Sem mais delongas - um pensamento de água fervente, só

A sobriedade é um porre.

terça-feira, novembro 14, 2006

E o tempo passa para todo mundo - uma história de chá, envelhecido

Houve um tempo em que, para mim, a expressão máxima da diversão era tacar água e sabão no chão de lajota do quintal pra ficar bem escorregadio e passar a tarde inteira rastejando de um lado para o outro, me sentindo uma espécie de anfíbio, até acabar com a barriga toda ralada e machucada. Depois, era só entrar em casa e comer bolinho de chuva com leite e achocolatado que a mamãe tinha preparado e dormir na frente da TV feliz da vida.

Então, veio a fase em que bom mesmo era juntar uma porção de meninas, ir almoçar em algum lugar barato, fazendo bastante barulho a refeição toda (só mulheres, digo adolescentes, são capazes de fazê-lo com primazia) e em seguida, caminhar até a rua dos meninos, passar a tarde toda falando abobrinhas, dando risadinhas e olhando de um lado para o outro.

Aí, veio a fase em que a boa era juntar uma galera grande e eleger um boteco, daqueles com ovo colorido e franguinho boiando na gordura, para ir sempre, chamar o garçom de algum nome carinhoso e beber breja de garrafa até não agüentar mais.

Com o fígado um pouco mais exigente, os ossos cansados e o nível de tolerância mais baixo, vieram as aconchegantes reuniões na casa dos amigos. Menos bebida, mais comida, melhor gosto musical, assuntos mais coerentes, sofás, tapetes, pufes confortáveis e artigos de comer e beber de qualidade.

Aliada à nova fase, veio o gosto pelo chá e pelo café. Apreciar a pureza e diferença entre um tipo e outro, ainda que cultivando a mesma habilidade para vinhos e cervejas. Sentar em uma cafeteria e sentir-se refeito com o calor de um cappuccino bem preparado ou a pureza de um chá verde.

Atualmente, fico feliz quando vou ao cinema e não durmo durante o filme, quando não tenho que fazer hora extra ou quando o trânsito não me deixa parada no mesmo lugar por mais de meia hora. Também gosto quando faz sol no domingo, quando não tenho insônia e quando toca a minha música preferida (e velha) no rádio. Adoro o aconchego de lençóis limpos, tomar café da manhã com tempo e ouvir música enquanto tomo banho.

Gosto de fazer chacota dizendo que estou velha quando, na realidade, ainda não estou tão velha assim por mais que tudo tenha drasticamente mudado na minha rotina e gostos pessoais. Dizem por aí que a vida começa aos 40, nesse caso, ainda tenho mais um tempo nesse estado embrionário, descobrindo as oportunidades e facilidades desse útero, absorvendo coisas boas e ruins de um tal cordão umbilical que eu não faço a menor idéia de onde esteja.

No fim das contas, acho que certas coisas nunca mudam e tem tardes que eu ainda consigo sentir a mesma alegria das férias de infância, apenas sentindo aquele cheiro de grama molhada e o barulho da chuva batendo no portão.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Admiráveis vícios novos – uma história de café, cyber café

Dizem por aí que estamos na era da informação. Sites se vangloriam com a máxima do “notícia minuto a minuto”, a internet coloca o mundo inteiro à sua disposição com apenas um click, a telefonia celular, os satélites, os GPS, a tecnologia wireless e mais uma porção de coisas te jogam para dentro de um mundo interligado, você tem a sensação de fazer parte de uma (ou A) rede.

Toda essa liberdade e agilidade (ou seria escravidão por vontade própria) que as telecomunicações trouxeram para o homem moderno têm um custo. E não é apenas o custo material não, é principalmente quanto vale a sua sanidade mental. Atualmente, me considero uma viciada em internet. Quando era adolescente, tive a fase de viciada em telefone (a maioria das meninas passa por isso). Hoje, simplesmente troquei de vício. Praticamente não assisto televisão, só vou ao cinema, mas consumo toneladas de lixo cibernético. Qualquer dúvida, consulto os arquivos infindáveis da internet, se preciso falar com alguém, recorro ao msn ou email. Forço-me a manter distância do computador nos fins de semana, mas as vezes é impossível controlar, comportamento de viciado mesmo.

Esse fim de semana, esqueci o celular no carro de um amigo e passei o Domingo sem o dito cujo. Não que eu receba ligações incessantemente, as vezes dias inteiros se passam sem que nada aconteça, mas sei lá, sabe aquela segurança, aquele poder de encontrar as pessoas e ser encontrado, ou simplesmente porque ele é um bem eletrônico voltado à comunicação e é MEU, queria tê-lo ao meu lado. Com o perdão do exagero, cheguei a me sentir semi-nua longe do meu pequeno localizador e foi um grande alívio revê-lo (não, ele ainda não tocou), é como se a vida voltasse a sua normalidade.

Antes do acontecido, ainda não tinha me dado conta de quão dependente eu sou dessa nova tecnologia. E pensar que, na minha infância, música se ouvia em LPs ou fitas cassete, telefone era de disco e apenas para emergências, filme era no cinema ou no vídeo-cassete e computador era coisa de história de ficção cientifica. A medida que eu fui crescendo, fui assimilando as novidades, cds, telefones celulares, identificadores de chamada, MP3s, DVDs. Hoje em dia, parece engraçado que, antes, tudo isso a qual baseio minha rotina simplesmente não existia e todos viviam super bem com isso.

Vivemos a era da invasão. Você pode achar alguém ou ser achado com apenas um toque de celular (com alguma astúcia, também pode fingir estar em algum lugar que não está ou ignorar alguém indesejável), sistemas internos de câmeras filmam os passos de transeuntes nas ruas, compradores e funcionários em lojas ou shopping centers, trabalhadores em empresas, operários em fábricas, visitantes em prédios ou condomínios. E como se isso ainda não fosse suficiente, existem outros que filmam a si próprios e publicam suas imagens, ao vivo ou gravadas, na net para “socializarem”. Sem é claro esquecer dos já famosos e sem glamour reality shows. A realidade, intimidade e estupidez de seres humanos (celebridades ou não), expostas para avaliação da massa. O que Aldous Huxley diria de tudo isso?

Há 50 anos atrás, acredito que as pessoas viviam com menos pressa e com mais qualidade. Os carros andavam mais devagar, os trens bala ainda não assustavam ninguém, as cartas demoravam uns 2 dias para chegar, os telefonemas tinham caráter de importância, as crianças brincavam fora de casa e as pessoas se encontravam quando queriam conversar e matar as saudades, ao invés de mandarem um email, um “torpedo” ou ligarem nos celulares uma das outras enquanto esperam a roupa na lavanderia, ou o carro na saída do restaurante.

As crianças de hoje em dia não souberam como era o mundo sem internet, sem TV a cabo, sem celulares, sem MP3, fotografia digital. As vezes, acho que as coisas estão rápidas até demais. Seu chefe pode te achar em qualquer lugar, você pode fazer aquele “trabalhinho” em casa mesmo e mandar por email. Você disponibiliza arquivos enormes via FTP, não precisa mais de um “portador” para levar nada de um lugar a outro. Quanto mais práticos e rápidos os processos de comunicação e também humanos se tornam, mais dependente deles ficamos e menos tempo para o resto temos. O que foi criado para agilizar e poupar tempo, apenas acelerou ainda mais os mecanismos e deixou a sensação de que “fazer nada” é perda de tempo e tempo, como todo mundo sabe, é dinheiro.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Ode à Impressora – uma história de café, sem impressão

Ó magníficas máquinas eletrônicas de imprimir, vos que sois tão incrivelmente majestosas, porque me odiais com tamanha intensidade? Que haverá essa pobre escrava de vossos serviços feito para vos irritar tanto, a ponto de nunca mais imprimir-me algo antes de severa sessão de torturas e crueldades?

É só comigo, ou as impressoras foram criadas apenas para aporrinhar ainda mais a humanidade? Elas simplesmente me odeiam, com toda a força de seus cartuchos e cabeças de impressão. Nunca, mas nunca eu tive momentos de alegria ao lado de uma dessas maravilhosas máquinas modernas. São sempre barulhos estranhos, mensagens de erro e folhas e mais folhas desperdiçadas.

As impressoras são como animais, elas sentem seu medo, sentem sua apreensão. Quanto mais você precisa delas, menos elas vão te ajudar. Típico exemplo da criação que passa a ter total controle sobre seu criador, trazendo apenas discórdia e descontentamento.

Se você tem pouco tempo e precisa imprimir algo rapidamente, isso definitivamente não vai acontecer. Primeiro, a dita cuja vai puxar todas as folhas de uma vez só e travar. Depois, você vai perder um tempão desfazendo a confusão. Aí, você vai ter que cancelar e mandar tudo de novo. A impressora, dessa vez, vai repetidamente se recusar a puxar qualquer pedaço de papel que você coloque, ao contrário da travessura anterior. Em seguida, após muita insistência, ela finalmente pega apenas uma folha e começa a impressão. Você suspira aliviado e sentindo a quebra da tensão, a danada simplesmente corta a impressão no meio e cospe a página fora. Sem saber o que você fez de errado e já tremendo, você refaz todos os passos e espera ansiosamente pela reação. Como uma boa menina, sem reclamar, a impressora pega a folha e, milagrosamente, imprime perfeitamente e, ainda por cima, repete a operação. Nesse momento de júbilo profundo, você se afasta com um sorriso na face, respira profundamente e vai beber uma água, ô canseira. Quando você volta, o caos está instaurado. A filha duma mãe está piscando todas as luzes, como uma árvore de Natal, as folhas estão todas espalhadas pelo chão, umas borradas, outras tantas amassadas. Pacientemente, você arruma tudo, troca os cartuchos de tinta, cancela o processo pela milionésima vez e, exausto, tenta de novo. Depois de muito tempo, paciência e bom humor perdido, o serviço está feito, mas seu prazo (que prazo?) já era!

Eu, sinceramente, acho que devo possuir algum tipo de feromonio que, em contato com alguma ligação elétrica da impressora, provoca uma quebra de comunicação máquina-máquina irreversível. É só eu estar perto da talzinha para ela não imprimir porcaria nenhuma. A minha tática atual é colocar as folhas, verificar os cartuchos e sair correndo, ficar bem longe. De uma distância saudável, observo com o canto dos olhos como tudo está saindo, sem que ela me veja, é claro. Terminado o trabalho, volto e pego as folhas delicadamente, para que ela não sinta a minha presença e fujo mais uma vez. Nesse balé desengonçado, vamos vivendo nossos dias até que de forma harmoniosa. Se eu olho muito para ela, é melhor desistir. Se converso então, nem pensar. Ela sumariamente me odeia. Tenho que fingir que não estou aqui, que ela não me vê, que sou minúscula e invisível, porque se me faço presente, já viu.

Atualmente, acredito que a impressora seja “The Ultimate Creation of Murphy and Poliana”, praticamente como um bebê de proveta dos dois. Tudo que pode dar errado com ela, vai dar, enquanto você se convence de que tudo poderia ser muito pior. Porque no tempo do seu avô, quando eles tinham que fazer tudo a mão, arcaicos processos litográficos, ou pesadas e barulhentas máquinas de escrever, tudo era muito mais complicado... Mas era sim, viu?

quarta-feira, novembro 08, 2006

Malditos sejam os Contos de Fadas – uma história de chá, de pirilimpimpim

As vezes eu me pergunto como efetivamente se deu o “felizes para sempre” de grandes ícones da minha infância, como a Bela Adormecida e o Príncipe, a Rapunzel e o Príncipe, a Branca de Neve e o Príncipe. Alias, é interessante notar que apenas a noiva tem um nome próprio. O noivo é simplesmente “o príncipe” que aparece apenas no final da história e salva a mocinha para que, finalmente, eles possam formar um belo casal, vivendo felizes para o resto de suas vidas (seria esse favorecimento feminino reflexo dessa sociedade que já foi extremamente matriarcal um dia?)

Será que transportando as histórias da carochinha para o mundo real, encontraríamos a Cinderela gorda e ensebada, atrás de um fogão sujo, com três crianças aos berros agarradas à sua saia, enquanto o príncipe, todo maroto, de cueca e barrigão à mostra, gritaria do sofá da sala que quer um potinho de amendoim e outra cerveja?

Porque é que nos ensinam que, depois de encontrar o príncipe ou a princesa de nossas vidas, tudo será feliz para sempre, a história vai se acabar e o livro vai se fechar, quando na realidade, é apenas um novo capítulo começando? Bons eram os tempos em que o galã encontrava a moçoila, beijava-a tenramente e tudo terminava com felizes para sempre e o fim. Depois disso, era só abrir outro livro, virar a página, mudar a brincadeira e esquecer que o “sempre” ainda significaria muito, mas muito tempo.

Que fim leva o “sempre” na realidade? O que acontece com aquela porção de menininhas que cresceram ouvindo contos de fadas, passaram a adolescência inteira esperando pelo sapatinho de cristal e quando finalmente encontraram um forte candidato a rei, passaram a viver os dias a espera do casamento para que, logicamente, tudo terminasse com mais um final feliz. A vida continua minha gente. O maior dos sonhos (para alguns) se realizou, mas ninguém contou que agora é preciso vivê-lo até o fim. É preciso convivência, boa vontade, paciência e muita coisa que as fadas madrinhas nunca nos contaram para levar toda essa história a diante.

Até onde eu sei, os reais contos de fadas, surgidos na Idade Média se não me engano, eram assustadores, cruéis, com passagens violentas e até sexuais para colocar medo mesmo. Até que alguém decidiu transformar tudo aquilo em lindas histórias meigas para embalar os sonhos de crianças indefesas e fez-se o caos.

Não que hoje a culpa de tantos casamentos mal sucedidos, paixões mal interpretadas e decisões precipitadas seja apenas reflexo de uma infância romantizada. Mas durante meus “anos de inocência”, nunca parei para pensar no que aconteceu com a vida da Gata Borralheira depois que encontrou seu príncipe, muito menos alguém veio me contar. Era só fechar o livro e pronto. Todos os personagens estavam aprisionados naquele mundo de fantasia, vivendo e revivendo aquele mesmo sonho. Talvez se alguém tivesse me contado que o marido da Pequena Sereia virou um alcoólatra e batia nela toda noite quando chegava em casa, ou que a Bela tinha abandonado os quatro filhos e o marido para fugir com um astro de cinema, minha visão sobre “felizes para sempre” teria sido diferente.

Mas enfim, quando eu era pequena, fechava o livro e ficava imaginando que histórias incríveis aqueles personagens estariam vivendo na sua felicidade infinita. E, hoje em dia, eu desligo o computador e tento não pensar em nada, absolutamente nada, sobre todas essas coisas que no fim, dizem por aí, sempre acabam bem.

terça-feira, novembro 07, 2006

E porque não se vende Felicidade em pacotes de preparo instantâneo – uma história de chá, com metilenedioximetamfetamina

Haverá o dia em que você vai chegar ao supermercado e encontrar prateleiras inteiras lotadas de embalagens de Felicidade com preparo instantâneo nos sabores amor, amizade, dinheiro, saúde e orgia. O único problema é que, como todo industrializado, tal produto virá acompanhado de uma data de validade, alguns efeitos colaterais indesejáveis, como inchaço e má nutrição e um preço as vezes não muito convidativo, mas nada que não possa ser solucionado com qualquer outra nova invenção.

Por exemplo, para combater os males causados pela azia ou indigestão oriundos do constante consumo de Felicidade, basta ir na farmácia mais próxima e comprar umas cápsulas de Alegria. Tal artigo acabaria com aquela sensação de mal estar e ainda deixaria sua pele com a aparência saudável e brilhante.

Para aqueles com tendências mais depressivas e auto-destrutivas, também seria desenvolvida a pasta de dentes a base de Tristeza com longa duração. Aquela que basta você usar uma vez para se sentir infeliz e desamparado pelas 24 horas subseqüentes.

Mais além e com base nos conhecimentos de culinária e nos processos humanos, é bom ressaltar que esses alimentos de preparo instantâneo, além de uma grande quantidade de acidulantes, conservantes e substâncias artificiais, também são de incrível fácil digestão. Sendo assim, após o consumo de uma refeição de Felicidade, a Tristeza viria com o fim do processo digestivo, mesmo sem o uso do dentifrício a base de tal (para aqueles que apreciam um pouco de melancolia e solidão logo após as refeições, seu uso, no entanto, se faria indispensável).

Outro problema causado pela inclusão desses novos bens de consumo no mercado seria a dependência física e psicológica que ambos acarretariam, porque todos aqui bem sabem que a Tristeza, por natureza (com o perdão da rima infame), tem uma duração muito maior do que a Felicidade (citando o poeta: tristeza não tem fim, felicidade sim.). Sendo assim, o consumo de Felicidade, para suprir ânsias e carências, seria muito maior do que o de Tristeza, já que foi comprovado que o corpo é capaz de produzir esta última praticamente por geração espontânea, enquanto Felicidade requer uma boa dose de outros estímulos, (parecidos com aqueles acrescidos nos adoçantes artificiais).

Deste modo, criaríamos uma geração viciada em Miojo-Felicidade, afogando mágoas e decepções em potes e potes de lixo instantâneo. Os refrescos gaseificados extremamente adocicados (e a base de cola[?]) seriam sumariamente substituídos por refeições rápidas e de preparo imediato, símbolo de uma nova juventude. Modelos esbeltas e felizes ao lado de rapazes descolados e com cara de desajustados posariam com seus pacotes de Felicidade ao alcance da boca, destilando exaltação e bom humor.

E assim caminharíamos para um novo estágio da humanidade, em que as emoções, finalmente controladas pelas grandes corporações, poderiam enfim ser adquiridas em qualquer esquina, a qualquer preço e nos mais variados sabores, indicações de uso, efeitos colaterais e composições.