Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

sexta-feira, julho 20, 2012

Escondendo tesouros – uma história de chá, impresso


Gosto de encontrar coisas esquecidas dentro de livros. Mais até do que achar dinheiro dentro dos bolsos das calças, bermudas, saias e afins.

Deve ser por causa da história. História não só do livro, mas também da coisa. A página em que se encontra. Se ainda guarda seu cheiro. Que tipo de recordação. Quanto mais antigo melhor. Um pedaço de papel amarelado. Um cartãozinho de uma loja que já não mais existe. Uma anotação. Um poeminha. Talvez uma declaração.

Dedicatórias não contam, apesar de serem interessantes. Mas muito previsíveis. Bom mesmo é virar a página e encontrar o pequeno tesouro. Imaginar quando foi enterrado ali. Qual era o motivo.

Uma rosa amassada. Escurecida pelo tempo, mas ainda assim com o perfume de sua juventude. Bom mesmo para isso são os livros antigos. Lembranças guardadas, adormecidas que se revelam ao contato com o oxigênio. Que despertam com a luz. Sobe até um pozinho de magia.

Melhor ainda são os livros emprestados. Lembranças que não são suas. Pedaços de uma vida que você não viveu. Memórias que não te pertencem. Sentimentos que você não entende. Pequenas joias à imaginação. Entre os dedos aquele pedaço de passado, inerte. Você tenta descobrir o que é. Mas ele não diz nada. Devolve na mesma página. Que ali pertence.

Adoro quando os livos dos sebos vêm com essa pequena lembrancinha. Comercializamos sonhos anônimos também.

Livros eletrônicos? Bah! Quero poder esconder pequenos segredos entre as páginas de todos os livros que leio. Câmara do tempo. Para depois me descuidar. E quando abrir, que não me lembre mesmo. Para que a surpresa seja dupla. E se outro alguém encontrar, melhor. Que um tesouro roubado sempre vale mais.

quarta-feira, julho 11, 2012

Aula de balé – uma história de café, à ribalta


Levo uma vida de bailarina. Vivo na ponta dos pés.

Não por graça ou elegância. Menos ainda por compasso ou vocação.

A realidade é que eu sou baixinha. Mas tão baixa que passo o dia elevando o corpo com a ajuda do dedão e nem me dou conta disso. Só quando me abaixo e reparo no calo que cresce com desenvoltura, alimentado por essa mania de viver tentando alcançar o céu.

Garanto. Nem percebo. Quando vejo, já estou de novo tensionando a panturrilha e ganhando alguns centímetros. Porque centímetros, todo baixinho disputa a tapa. Qualquer centímetro já faz toda a diferença.

Pode ser para alcançar alguma coisa numa prateleira, para conseguir enxergar melhor, para fazer uma confissão ao pé do ouvido, para abraçar, para dançar e até para falar mais alto.

Levo a vida na ponta dos pés. Mas sou desastrada, estabanada, desajeitada. Nunca seria uma boa bailarina. Mesmo assim, insisto. Recuso o salto. Até abraço a sapatilha. E sigo subindo degraus imaginários. Na esperança de que um dia, ao invés da plateia, o mundo é que se curve para mim.

segunda-feira, julho 02, 2012

Domingo – uma história de chá, sem nada de mais


Faz silêncio aos domingos. Dá até pra ouvir um coração bater.
Bambeia. Erra, recomeça. Perde a cadência. Dá uma sambadinha. Requebra desengonçado. Pára. Desiste. Volta outra vez.
Acerta o ritmo. Mantém. Cansa. Suspira. Corre paradinho que é pra aquecer. Depois faz pouco. Relaxa.
Fica ali contemplando o céu azul. De um infinito que oprime. De um calor que amacia. De um brilho que cega.
Já é tarde. A noite é fria. A segunda é próxima. Enrijece. Perde a delicadeza. Se faz preocupação. Anda na pontinha dos pés. Prefere não estar ali. Disfarça. Respira contido. Calculado. Inseguro.
Adormece.
O silêncio engana.