Chá ou Café?
Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...
Escondendo tesouros – uma história de chá, impresso
Gosto de encontrar
coisas esquecidas dentro de livros. Mais até do que achar dinheiro
dentro dos bolsos das calças, bermudas, saias e afins.
Deve ser por causa da
história. História não só do livro, mas também da coisa. A
página em que se encontra. Se ainda guarda seu cheiro. Que tipo de
recordação. Quanto mais antigo melhor. Um pedaço de papel
amarelado. Um cartãozinho de uma loja que já não mais existe. Uma
anotação. Um poeminha. Talvez uma declaração.
Dedicatórias não
contam, apesar de serem interessantes. Mas muito previsíveis. Bom
mesmo é virar a página e encontrar o pequeno tesouro. Imaginar
quando foi enterrado ali. Qual era o motivo.
Uma rosa amassada.
Escurecida pelo tempo, mas ainda assim com o perfume de sua
juventude. Bom mesmo para isso são os livros antigos. Lembranças
guardadas, adormecidas que se revelam ao contato com o oxigênio. Que
despertam com a luz. Sobe até um pozinho de magia.
Melhor ainda são os
livros emprestados. Lembranças que não são suas. Pedaços de uma
vida que você não viveu. Memórias que não te pertencem.
Sentimentos que você não entende. Pequenas joias à imaginação.
Entre os dedos aquele pedaço de passado, inerte. Você tenta
descobrir o que é. Mas ele não diz nada. Devolve na mesma página.
Que ali pertence.
Adoro quando os livos
dos sebos vêm com essa pequena lembrancinha. Comercializamos sonhos
anônimos também.
Livros eletrônicos?
Bah! Quero poder esconder pequenos segredos entre as páginas de
todos os livros que leio. Câmara do tempo. Para depois me descuidar.
E quando abrir, que não me lembre mesmo. Para que a surpresa seja
dupla. E se outro alguém encontrar, melhor. Que um tesouro roubado
sempre vale mais.
Aula de balé – uma história de café, à ribalta
Levo uma vida de
bailarina. Vivo na ponta dos pés.
Não por graça ou
elegância. Menos ainda por compasso ou vocação.
A realidade é que eu
sou baixinha. Mas tão baixa que passo o dia elevando o corpo com a
ajuda do dedão e nem me dou conta disso. Só quando me abaixo e
reparo no calo que cresce com desenvoltura, alimentado por essa mania
de viver tentando alcançar o céu.
Garanto. Nem percebo.
Quando vejo, já estou de novo tensionando a panturrilha e ganhando
alguns centímetros. Porque centímetros, todo baixinho disputa a
tapa. Qualquer centímetro já faz toda a diferença.
Pode ser para alcançar
alguma coisa numa prateleira, para conseguir enxergar melhor,
para fazer uma confissão ao pé do ouvido, para abraçar, para
dançar e até para falar mais alto.
Levo a vida na ponta
dos pés. Mas sou desastrada, estabanada, desajeitada. Nunca seria
uma boa bailarina. Mesmo assim, insisto. Recuso o salto. Até abraço
a sapatilha. E sigo subindo degraus imaginários. Na esperança de
que um dia, ao invés da plateia, o mundo é que se curve para mim.
Domingo – uma história de chá, sem nada de mais
Faz silêncio aos
domingos. Dá até pra ouvir um coração bater.
Bambeia. Erra,
recomeça. Perde a cadência. Dá uma sambadinha. Requebra
desengonçado. Pára. Desiste. Volta outra vez.
Acerta o ritmo. Mantém.
Cansa. Suspira. Corre paradinho que é pra aquecer. Depois faz pouco.
Relaxa.
Fica ali contemplando o
céu azul. De um infinito que oprime. De um calor que amacia. De um
brilho que cega.
Já é tarde. A noite é
fria. A segunda é próxima. Enrijece. Perde a delicadeza. Se faz
preocupação. Anda na pontinha dos pés. Prefere não estar ali.
Disfarça. Respira contido. Calculado. Inseguro.
Adormece.
O silêncio engana.