Presídios
superlotados. Alta nos índices de roubos, furtos, latrocínios e
homicídios. Quem vê o noticiário tem a impressão de que nunca foi
tão perigoso viver no Brasil. Culpa-se a falta de educação, de
segurança, de meio social saudável. Na maioria das vezes, esses
culpados são sintomas, e não causas.
A verdadeira causa,
aquela que todo mundo sabe, mas prefere não ver, é a má
distribuição de renda, a desigualdade social.
O brasileiro médio
vive dizendo que vai sair do país e morar na Europa. Aquilo é que é
continente sério, justo, seguro. Entretanto, quando esse mesmo
brasileiro chega lá, invariavelmente se decepciona com seu sonho.
Sim, o transporte público funciona, a segurança funciona, o sistema
de saúde funciona. Mas não existe desigualdade social. E isso, faz
falta.
Faz falta porque não é
possível contratar alguém para limpar seu banheiro. É preciso
pagar salário de gerente para ter uma empregada doméstica. Mesmo
aqui no Brasil, as pessoas já começam a sentir isso. Com a mínima
melhora na distribuição de renda e o aumento nas oportunidades, o
número de faxineiras reduziu, e o valor que elas pedem aumentou,
escandalizando o brasileiro médio tão acostumado a explorar a
pobreza de seus concidadãos.
Na Europa, com uma
melhor distribuição de renda, o brasileiro médio logo descobre que
todo mundo ganha mais ou menos a mesma coisa. E isso incomoda. Como
assim ele não pode ser melhor do que ninguém pelo dinheiro que faz
ou pelo o que possui? Tenho dois casos de amigos próximos para
ilustrar. Um casal voltou recentemente quando percebeu que o topo de
seu salário em um alto cargo empresarial era o mesmo que ganhava um
marceneiro no tal país europeu. Outro retornou à pátria amada
porque o marido, europeu, não era ambicioso o suficiente, se
conformava em ganhar apenas o suficiente para viver, não tinha
sonhos de enriquecer. Voltaram para fazer fortuna no Brasil, à custa
dos outros, é claro.
O brasileiro médio
reclama dos impostos, da falta de segurança, do risco à roubos, mas
quer se manter “superior”aos demais. Quer ficar rico, quer ter
empregados. Para ele, o mais importante é que a má distribuição
de renda nunca acabe. Como é que ele vai ganhar, por um trabalho
intelectual, o mesmo que um vagabundo ganha por um trabalho braçal?
É um absurdo. Qualquer um pode levantar uma parede. Eu receio que
não.
Esse brasileiro médio
não percebe que, enquanto ele tem muito, e outros tem muito pouco,
ele desperta a inveja, a raiva, o sentimento de desigualdade e
injustiça. Ele trabalha, ganha dinheiro, compra seu objeto de
desejo, uma SUV, e sai desfilando por aí. O pobre ajudante de
pedreiro que trabalha feito um burro de carga e sabe que nunca vai
conseguir juntar dinheiro o suficiente para comprar o mesmo veículo,
um dia se cansa, vai pra rua e decide roubar seu também objeto de
desejo, uma SUV.
Não estou dizendo que
uma coisa justifica a outra, longe disso, muito menos que isso é
regra geral, foi só um exemplo fictício. Minha intenção é apenas
lembrar que, se todos tivessem as mesmas oportunidades, ou pelo menos
oportunidades mais próximas, diminuiríamos, e muito, a
criminalidade. Foi isso que a Europa fez. São poucos os salários
milionários, tanto nos cargos públicos, como privados. São menores
as diferenças de teto salarial, tanto nos empregos em corporações,
quanto serviços. Isso gera mais satisfação, aumenta a sensação
de justiça e merecimento, diminui a ganância, a ambição, a inveja
e a propensão à corrupção. Ninguém precisa ter mais que o outro,
ninguém precisa ser superior, ninguém precisa pisar em ninguém.
Podemos ser todos iguais.
Inclusive, se salários
exorbitantes não fossem possíveis, você não precisaria trabalhar
14, 16 horas por dia na esperança de enriquecer. Não iria fazer a
menor diferença. Você não iria ficar mais ou menos rico mesmo. Aí,
dava para trabalhar 8, 6, 4 horas por dia. E passar o resto do tempo
com a família, os amigos, curtindo por aí. Aliás, os preços das
coisas não seriam tão caros também, porque os salários não
seriam tão díspares. E aí, você poderia não ser rico em cifras
mas, provavelmente, seria muito mais rico em vida.