Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

sexta-feira, março 30, 2007

Viver é uma loteria – uma historia de chá, de sorte e também de azar

“A felicidade, como a morte, é como um concurso milionário da TV” – Fred Zero Quatro – Samba Esquema Noise, Mundo Livre S/A

Não costumo começar textos com citações. Acadêmico demais para mim. Mas tenho que abrir uma exceção. Nesse caso, nada exprime melhor o que quero dizer do que a frase acima.

Cada vez, acredito mais que a vida não passa de uma grande loteria. Tem horas que acredito no acaso, nas coincidências, nos padrões. E tem horas que eu também acredito na total irregularidade e falta de sincronia de todos os atos e suas conseqüências. Sendo assim, no fim das contas, tudo é uma questão de sorte ou azar. Nada melhor do que simplesmente acreditar que tudo não passa de uma grande loteria. Ganhar ou perder, às vezes, nem é o mais importante. Na maioria das vezes, você só quer continuar dentro do jogo.

Tem aquela de que você tem que estar na hora certa, no lugar certo, falando com as pessoas certas para conseguir aquela oportunidade que vai mudar sua vida. Ou então, o contrário. Foi tudo um grande golpe de azar fulano estar no lugar errado, na hora errada, com as pessoas erradas.

Não há justiça, não há fazer por merecer, não há lógica. Apenas a escolha aleatória da bolinha premiada. Ouvi uma vez que coisas boas acontecem quando estamos distraídos. Deve ser verdade mesmo. Você nunca espera realmente ganhar na loteria, é sempre pego de surpresa. Então, nada mais lógico, mesmo que ilógico, do que esperar a sorte grande, quando você menos espera por ela. Confuso? É, vai entender. É a vida.

Obviamente, a teoria da ação e reação se aplica. Não vou, nesse momento, com toda a minha prepotência, negar os princípios da física. Entretanto, há de se convir que coisas estranhas acontecem de modo inexplicável e desaparecem de modo mais inexplicável ainda. Quer a minha teoria? Loteria. Tudo não passa de um grande “concurso milionário”. Hoje você ganha, amanhã você perde. Quem se importa? Suas apostas, mesmo que você pense que não as tenha feito, estão sempre rolando e, um dia, a felicidade, ou o azar vão bater na sua porta. Não sabemos o dia em que iremos morrer. Como também não sabemos o dia em que iremos conhecer “aquela pessoa” ou encontrar “aquele emprego” ou se livrar “daquele problema”. O que a gente faz, no fundo, é torcer. Torcer para que esse dia chegue logo. Torcer para que nossa bolinha premiada seja a bola da vez.

E daí eu me pergunto: e quem é que fica lá girando o globo e escolhendo os ganhadores? Será que a fé, o culto, as religiões, não são apenas maneiras de manifestar a nossa fixação por sermos enfim sorteados? Por sermos finalmente premiados com a sorte grande? Será que tudo não passa de uma grande torcida pelo cavalo ganhador? Pelo bilhete da sorte? Porque afinal, quando estamos lá, pedindo algo “aos céus” não temos certeza do que vai acontecer. Podemos sim batalhar, perseverar, perseguir o sonho e fazer tudo por ele, mas sempre, mesmo os mais céticos, têm um pedacinho ansiando por uma ajuda externa e inexplicável. A torcida por ganhar algo na loteria. Algo que você não tem controle, mas que seria muito bom se desse certo.

No fim, em algum lugar, tem alguém girando um globo gigante e anunciando a seqüência de ganhadores. Provavelmente comendo pipoca, bebendo cerveja e rindo pra caralho de toda a confusão que as conseqüências desse sorteio bizarro causam na população que não faz nem idéia do que está acontecendo e que habita esse engraçado planetinha.

quinta-feira, março 22, 2007

No tempo das cavernas – uma história de café, de dona de casa

Quais são as diferenças entre homens e mulheres?
Vamos começar pelas óbvias. Homens têm pênis, mulheres têm vagina. Homens têm peito, mulheres têm seios. Homens têm muito pêlo pelo corpo, mulheres tiram tudo. Homens fecundam, mulheres dão a luz. Homens têm mais músculos, mulheres têm mais gordura. Qualquer livro de biologia acompanhado de uma teoria evolucionista explica todas essas diferenças de forma lógica e inegável.

Agora vamos às diferenças não tão óbvias. Homens coçam as partes íntimas, mulheres não. Homens caem na farra e na bebedeira, mulheres não. Homens ficam até tarde na rua fazendo algazarra, mulheres não. Homens discutem política, mulheres não. Homens fazem comentários inteligentes e piadas de humor negro, mulheres não. Homens saem sozinhos com amigas mulheres, mulheres não saem sozinhas com amigos homens. Homens moram sozinhos, mulheres não. Homens ficam ricos, mulheres não. Homens reclamam, mulheres não. Homens saem para se divertir sozinhos, mulheres não. Mulheres lavam, passam e cozinham, homens não. Mulheres cuidam dos filhos, homens não. Mulheres chegam cedo em casa, homens não.

Discordou de alguma das colocações acima? Amém! Discordou de todas elas? Aleluia, o mundo tem salvação! Não discordou de nenhuma? É, eu já desconfiava. É um absurdo como ainda existem homens que realmente acham que mulher “pra casar”, “pra namorar” tem que ser aquele modelo de mulher pré-queima de sutiãs. Usa saia comprida, não abre a boca, a não ser para palavras agradáveis, não bebe, fica em casa cuidando de tudo, enquanto o maridão/namorado cai na esbórnia. O problema é que, depois que as tais queimaram os sutiãs, além de ter todas essas obrigações, a mulher moderna ainda tem todos os benefícios que ganhou. Ela trabalha. E depois de um dia exaustivo na labuta, ainda tem que correr até o lar para aprontar tudo, pegar as crianças na escola, arrumar o jantar e dar um tapa na casa, porque afinal, a vida de mulher é muito mais fácil.

Eu sei que tem muito casal, hoje em dia, que divide tudo em casa e também fora dela. Mas infelizmente, isso ainda é minoria. Eu sei que tem muito homem que, da boca pra fora, é todo oba-oba, adora cair com a mulherada na balada e se esbaldar. Mas na hora de tachar “a minha mulher” sempre descreve uma santa. Aquela que fica em casa esperando ele chegar, não bebe, não fala palavrão e parece sempre uma boneca de porcelana, bem diferente daquelas que ele adora cair na gandaia.

Eu definitivamente não consigo entender como é que, nos dias de hoje, ainda exista essa diferença, ainda exista gente apontando essa diferença, e ainda existe gente mantendo essa diferença. É algo que eu não consigo compreender, não consigo aceitar e ao que tudo indica, não consigo mudar também. Definitivamente, não sou “a mulher que fica em casa”, nem me interesso pelos “homens que acham que lugar de mulher é atrás do fogão”, ou seja, o ciclo neandertal não me afeta diretamente. Mas saber que ele existe e, principalmente, que sua ocorrência não é pequena, me tira do sério. Mas enfim, fora reclamar, uma das minhas já reconhecidas qualidades e que me desqualifica para uma porção de homens, aparentemente, eu não posso fazer mais nada.

Questões que me perseguem e permanecem sem resposta – uma história de chá, inconformado

• Por que quando você está tentando esquecer alguma coisa, ela é sempre o seu primeiro pensamento ao acordar e a última lembrança antes de dormir?

• Por que, no busão, as pessoas teimam em se amontoar num lugar, barrando a passagem para espaços mais livres ou cadeiras vazias?

• Por que nos finais de semana, quando eu posso dormir até tarde, eu não consigo dormir muito e, durante a semana, quando eu tenho que acordar cedo, é praticamente impossível sair da cama?

• Por que não trabalhar, apesar de parecer uma coisa boa, geralmente acaba sendo uma coisa ruim?

• Por que, quanto mais tempo livre, menos coisa eu consigo fazer e quando estou atolada sempre sobre um tempinho para algo a mais?

sexta-feira, março 16, 2007

Casais enamorados - uma história de chá, melado

Outro dia resolvi analisar antropologicamente casais de namorados. É curioso como, quando dentro de um relacionamento, você nunca repara em certos detalhes que para quem observa de fora, podem ser muito engraçados ou simplesmente ridículos.

Primeiro que a dupla regride à fase da pré-escola. Anda de mãozinhas dadas, usa uma porção de palavras no diminutivo e o top de linha, começa a falar naquela vozinha dengosa de imbecil. Sem querer ofender ninguém, falo isso por experiência própria. Também já virei uma completa idiota, mas porque caralho isso acontece?

É engraçado como todo mundo muda a voz no telefone na hora de conversar com o ser amado. E mais engraçado ainda é quando, num assunto mais delicado, sempre termina-se a frase em lá maior. Pode reparar.

Fico imaginando que parte do nosso cérebro o amor, a paixão afetam para ocasionar mudanças tão brutais de comportamento e atitude. Como é que você passa de um ser humano são e normal para um avoado de voz fina e jeito bobo.

É claro que isso não dura pra sempre, mesmo que o relacionamento dure (casos raros ainda são registrados). Tem uma hora que, também inexplicavelmente, o casal repara que aquelas afetações são absolutamente dispensáveis e, na realidade, até ridículas e começam a agir naturalmente mais uma vez. Tem-se então uma fase pé no chão, com bases sólidas na realidade, conversas inteligentes, aliás, mais conversas e menos dengos e as coisas parecem se encaminhar mais uma vez para a normalidade.

Como nada nunca pára de evoluir, chega então a fase em que, ao invés de falas longas e melodiosas, muda-se para frases curtas e muitas vezes ásperas. Mais uma vez, gostaria de poder explorar a área do cérebro que administra isso. Como você vai do afável retardado ao maníaco psicótico com a mesma pessoa.

E sem maiores mistérios, assim vão se desenrolando os relacionamentos. Provavelmente Adão já perguntava à Eva “de quem é esse narizinho?”, até que a danada foi se engraçar com outra cobra, comeu uma maçã e daí pra frente foi só “vai fazê o almoço muié” e “vê se antes trás uma cerveja bem gelada e os amendoim”.

terça-feira, março 13, 2007

O pó na vida – uma história de chá, em pó

Outro dia ouvi uma muito boa. Que tudo era culpa do pó. Rinite, sinusite, café ruim, sujeira, problemas de visão, emagrecimento, caganeira. Pobre pó. Bem, sabe como eles dizem, do pó ao pó. Não dá para negar nossas origens, muito menos tentar ocultar nossa total dependência, principalmente na vida moderna, dessas pequenas partículas às vezes tão curiosas.

Interessante pensar como, hoje em dia, temos tantas coisas em pó. Sopa em pó, leite em pó, chocolate em pó, café em pó, suco em pó, chá em pó. Basta adicionar água e a vida se transforma. Como aquela piadinha onde resolveram o problema de falta de água no deserto. Criaram a água em pó. Basta adicionar água e voilà!

O que me leva a pensar: o que será que fez com que o ser humano pensasse que o pó poderia substituir grande parte de seus problemas? Obviamente, as coisas em pó, como tudo o que é desidratado, ocupa muito menos espaço. Afinal, a água, esse negócio inodoro, incolor e insípido, não deve fazer grande diferença mesmo. É só fazer uma analogia com nós mesmos. Somos 70% água. Você tira todo o H2O líquido e o que sobra? O que realmente importa. Os órgãos, as plaquetas, os músculos.... NÃO. Se a água fosse dispensável, ela não ocuparia três quartos do nosso corpo e do nosso planeta, então por que essa obsessão por tirá-la de tudo e deixar apenas o pó?

Sim, eu sei que é mais prático, ocupa menos espaço, é fácil de carregar, tem maior tempo de duração (às custas de todos os conservantes e etc, mas isso é outra história mal humorada). Quantos batalhões, no frio gélido da Rússia, essas maravilhosas invenções em pó já não salvaram? Quantas pessoas em busca de aventura já não foram por ele animadas? Mas, por outro lado, a casa tá suja, é culpa do pó. Não pára de espirrar, é culpa do pó. Tempestades no deserto, é culpa do pó.

Interessante essa relação que nós, homus erectus contemporâneos, temos com o pó. Fico imaginando quem foi o primeiro que teve a grande idéia, e se a gente transformasse isso em pó? Puxa, acho que ia resolver todos os nossos problemas, heim?? E o resto, desde então, é história. Mas se tem até caipirinha em pó, eu acredito em tudo.

Se drenassem toda a água da Terra, sobraria apenas o pó. Quando a vida de nossos corpos se esvair, sobrará apenas o pó. Agora, por que é que viemos do pó também? Até onde eu me recordo, o lugar de onde eu vim era bem úmido, lembrando mais uma vez a importância inegável da água na vida.

Divagações metafísicas à parte, deixo aqui a minha declaração de amor e ódio ao pó, esse pequeno elemento que fácil se perde, em todo lugar se acha, a uns agrada, a outros nem tanto, porém, indispensável para a vida como a conhecemos hoje.

segunda-feira, março 12, 2007

Já não se fazem mais vídeo games como antigamente – uma história de café, pixelizado

No meu tempo, os heróis de vídeo game eram compostos por umas dezenas de pixels bem organizados e nada mais. As paisagens eram estáticas, objetivas e quadradas. Os comandos eram simples, para frente, para trás, direita, esquerda, pular, abaixar e parar. No máximo um atirar e pegar, mas nada muito complexo. Os botões, quando muito, eram dois. Um para o polegar esquerdo e outro para o direito. Sem mistérios, sem magias, sem complicações. E é claro, os sons. Diretos, incisivos. Clicks. Pocs. Zuns. Músicas eletronicamente e minimamente planejadas para não ocuparem muito espaço.

Hoje em dia, os heróis, vilões, mestres, magos, dragões e etc, são mais reais, muitas vezes, do que o meu próprio reflexo no espelho. São praticamente pessoas que você imagina, ou até gostaria de encontrar na rua, na balada, no supermercado. Os cenários são mais detalhados do que muita obra de arte barroca ou renascentista. A trilha sonora é feita pelas bandas da moda. Os movimentos são todos planejados, ensaiados. Os botões? ah, os botões... São tantos que eu não sei nem numerar, quanto mais manejar. É preciso ter curso de datilografia avançado antes de se aventurar num desses joysticks modernos. Confesso que fico perdida. Não sei o que fazer. Aperto tudo ao mesmo tempo e espero o que quer que aconteça acontecer.

Mas o pior de tudo é ouvir da nova geração as críticas aos jogos que marcaram a minha vida. Nossa, mas que chato! Só faz isso? Que tosco! Mas como assim???? É uma obra prima do fim do antigo milênio! Pixels gigantes finamente organizados para promover o máximo de diversão pelo mínimo de complexidade! Por favor, não blasfemem e minha presença!

Obviamente, como tudo que se refere a esses incríveis tempos modernos, isso também não tem mais volta. Tecnologia boa é aquela que é tão boa, que é melhor do que qualquer coisa que seja real. Tipo uma bolha de bytes e efeitos especiais.

Assim, nada mais posso fazer a não ser baixar meus emuladores e me divertir quietinha, sem emitir sons de euforia ou alegria, com meus jogos de 1k e esperar que os templários do 3D nunca me descubram, ou serei sumariamente expulsa desse mundo de irrealidade real.

quarta-feira, março 07, 2007

Pensamento do ano - de rebordosa

Bebo para afogar meu superego.
Pena que o danado sabe nadar e vem puxar meu pé pela manhã.

Versinhos infames – uma escorregada no chá

1.
In peça que alguém faça
Out peça para food er
Com quem só chicken bem

2.
All cansei tudo o que care ia
Pena que pisei na light nha
E desviei do meu come inho
Enquanto school tava um som.

segunda-feira, março 05, 2007

TNT – um cafezinho curto

Fiquei TONTA
de TANTO
TENTAR
enTENDER
TANTA
TENTAção
TENTAndo
me TENTAR
por TANTO
TEMPO

quinta-feira, março 01, 2007

Órfã do Carnaval – uma história de café, com confete e serpentina

Esse ano eu passei o Carnaval no Rio de Janeiro. Como não sou dada à multidões e apresentações colossais, fiquei todo o tempo longe da Sapucaí e perto dos blocos carnavalescos. E como, além de tudo, prefiro manifestações mais restritas, procurei aqueles blocos mais alternativos, menos inchados, mais sossegados e por tudo isso, mais surreais. Desde pequena, sempre passei o tal feriado numa cidadezinha do interior paulista, onde a grande festa era cantar marchinhas de carnaval e brincar despreocupadamente, como nos bons idos tempos. Quando o Axé invadiu a avenida, eu simplesmente me retirei pela porta dos fundos na esperança de que dias melhores iriam vir. E vieram. Esse ano, no Rio, pude ter minhas esperanças retornadas em grandes doses de folia e alegria inesperada.

Os blocos saem pelas ruas cantando marchinhas antigas e atraindo multidões de pessoas que não querem nada mais do que se divertir. Nada de pressões, nada de tumultos, nada de confusões. Posso dizer que meu carnaval no Rio foi uma experiência antropológica, uma constatação da natureza humana, um sonho surreal.

Andando pelas ruas desertas da cidade, tinha a impressão de estar em um conto de ficção científica ou de terror, é claro que numa interpretação mais lúdica, onde a metrópole havia sido esvaziada, seus habitantes teriam deixado tudo às pressas ao saber da invasão que estava por vir. Assim, a cidade teria sido infestada por orlas de foliões desvairados, dançando insandecidamente e cantando músicas por muito esquecidas. Fantasiados, coloridos e com sorrisos de dar inveja, as nuvens de gafanhotos fanfarrões iam percorrendo as ruas com uma energia contagiante, deixando um rastro de melodia e às vezes desolação.

Quem caminhasse pelas ruas do centro com o trânsito fechado, o comércio lacrado e os bancos ausentes, não imaginaria que em poucos segundos, aquilo pudesse se transformar num dos cenários mais animados de carnaval que já presenciei. Cortando o silêncio e a monotonia, direto do nada, surgia a multidão de alegria incontrolada, entoando cantigas de bebedeira, amor e folia, pulando, dançando, se abraçando, exibindo vestes espalhafatosas, colorindo o asfalto e os prédios cinzas.

Como na “Volta dos Mortos Vivos”, em que a cidade devastada é invadida por zumbis, a cidade Maravilhosa aparentemente abandonada era dominada pelo grupo mais animado de cidadãos. E ao fim do dia, com o pôr do sol, o corpo dolorido e a voz rouca de tanto cantar, a única coisa que eu podia desejar era a chegada de uma nova onda de tresloucados que pudesse, enfim, não me deixar parar de sorrir.

Casamento, um contrato empresarial – uma história de café, amargado

Outro dia ouvi uma ótima: se uma coisa é proibida ou vira lei, é porque antes disso, deveria acontecer pra caralho. Igual quando você chega em um lugar e está ali escrito em letras garrafais “Não fazemos fiado”. Com certeza o dono do estabelecimento já tomou um cambau tão grande antes disso, que agora não consegue mais finalizar uma única transação sequer, sem antes perguntar se o dito cujo tem como pagar.

Desta primeira premissa, eu comecei a pensar no casamento, que afinal, nada mais é do que abrir uma empresa em conjunto com alguém. Você faz um contrato, acorda como vão viver, o que é seu, o que é da outra parte e, fatalista como qualquer negociação comercial deve ser, você ainda determina o que vai acontecer quando vocês (sim, invariavelmente segundo as novas doutrinas mercantilistas) se separarem, afinal, toda empresa que se preze está correndo o risco de falir, ruir e quando isso acontecer, você deve saber para onde correr. Nos dias atuais, ninguém pode se dar ao luxo de viver na incerteza, sem saber como será o dia de amanhã, mesmo que você não tenha nem condições de saber se vai efetivamente chegar a esse dia.

Ah, bons eram os tempos dos casamentos hippies... Paz, amor e sexo livre! Isso sim é que deveria ser vida. Casar com os pés descalços tocando a grama, roupas largas, frases soltas, palavras suaves, nenhuma preocupação. Mas, ao que tudo indica, esse negócio de casamento ser uma ação contratual remonta ao direito romano. Os bons e velhos sábios da antiga Roma já celebravam suas uniões matrimoniais com a assinatura de papéis autenticados, oficializando a aliança. O que me leva a pensar que, para que esse tipo de coisa passasse a existir, antes a putaria entre os casais deveria ser muito grande, levando todos eles a se organizarem e exigirem leis que os protegessem e oferecessem segurança. E isso me leva a uma outra lei, aquela em que a um cidadão lhe é proibido casar com a ex-sogra ou ex-sogro, não importando a situação civil de ambos. Sogro é sempre sogro e ponto final. Ou seja, se isso hoje é proibido, é porque antes acontecia pra caralho! Que mundo bizarro.

Mas nisso tudo, o que mais me assusta, realmente, é o fato de você já começar a relação pensando que ela pode, ou vai acabar. Contratos gigantes organizando os bens para uma possível separação, dores de cabeça, advogados. Se vai acabar, porque então começa? Ok, talvez eu esteja sendo um pouco radical, se prevenir é sempre bom e por mais amor que exista, a gente nunca sabe do futuro. Mas pra mim, me parece um pouco insensível demais ter todo o fim estabelecido, organizado, mesmo antes do começo.

Sei lá, batendo na mesma tecla, se hoje as coisas são assim, é porque antes já deu confusão demais não ter nada estabelecido ou acordado, mas por mais lógico que tudo isso seja, me assusta, realmente me faz pensar no que a humanidade está tomando como verdade hoje em dia e o que mais vamos inventar.

Bem, sendo esse um assunto sem fim e aparentemente sem começo também, deixo aqui registradas as minhas impressões e me excluo de levantar sugestões, mesmo porque não as tenho. Prefiro, dessa vez, assumir descaradamente meu papel de observador e ver se, em algum momento, vamos parar de teorizar até o amor.

Wonderland or Neverland? – uma história de chá, onírico

Se você pudesse escolher, para onde iria: Terra do Nunca ou País das Maravilhas?

Eu sinceramente não sei. Houve um tempo em que eu provavelmente escolheria ir para a Terra do Nunca, a idéia de crescer, virar gente grande, arranjar um monte de responsabilidades estúpidas e ter que lidar com preocupações irritantes nunca me animou muito. Sendo assim, permanecer criança para o resto da minha existência sempre me pareceu a melhor solução para todos os meus problemas. Sem contar que eu adorava a Sininho e a possibilidade de poder voar para qualquer lugar. A única coisa que me incomodava era aquela gritaria de meninos perdidos, tenho um adulto ordeiro escondido dentro de mim, mas nada que uma boa conversa civilizada não resolvesse.

Por outro lado, o País das Maravilhas sempre se apresentou muito mais colorido, alegre e cheio de mistérios para mim. Por mais que toda aquela liberdade da Terra do Nunca me cativasse incondicionalmente, eu sempre achei o lugar meio sombrio, aquela Ilha forrada por uma floresta Tropical, densa e cheia de predadores escondidos, sem mencionar é claro, o capitão gancho e aquele crocodilo que engoliu um relógio. Aquele tic-tac sempre me deu frio na espinha. É aí que entra o País das Maravilhas, um lugar em que você pode crescer, diminuir, fumar narguilé com uma centopéia, ser uma peça de xadrez, ter um exército de cartas de baralho, tomar chá com o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março e ainda completar 364 (não em anos bissextos) desaniversários. A perspectiva de diversão é incrivelmente muito maior. Além daquele coelho branquinho que sempre me passou muito mais paz e segurança do que o desmiolado do Peter Pan (olha só a minha parte velha conservadora gritando de novo).

Mas acho que sim, se fosse para escolher apenas um lugar para viver, eu escolheria o País das Maravilhas. Até o nome é mais convidativo: Maravilhas, não Nunca. Um lugar em que qualquer coisa pode acontecer, inclusive pintar rosas brancas de vermelho, ou dar risada com um gato que aparece e desaparece. Quer lugar mais divertido do que esse? Não consigo pensar em absolutamente nada melhor.

Deste modo, é com muito pesar que eu me despeço de Peter Pan, Wendy e todos os meninos perdidos e adoto a terra da Rainha de Copas como meu novo lar. Pretendo em breve já agendar meu primeiro chá com o Chapeleiro, isso se eu conseguir alcançar o coelho para descobrir que horas são. Depois, irei gastar todos os meus dotes esportivos em uma animada partida de cricket com a Majestade e, por fim, conversar longas horas em cima do muro com Humpty Dumpty.

Mal posso esperar! Que ótimas surpresas e surreais irresponsabilidades essa nova vida me reserva. Vou já fazer minhas malas, adormecer embaixo de uma árvore e esperar feliz da vida a hora de me jogar de cabeça no primeiro buraco que encontrar.