Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quinta-feira, junho 18, 2015

Afinal, o que você quer da vida? - uma história de chá, que quer ser apenas chá

Sombra e água fresca, claro. Se bem que, no meu caso específico, a resposta seria seria sol, coqueiros, mar, cerveja ou caipirinha de caju. Com cachaça, por favor.

Desde que a gente veio ao mundo, desde que a gente se entende por gente, é sempre a mesma pergunta. O que você quer ser quando crescer? Já escolheu a faculdade? Já escolheu a sua especialização? O que você gosta de fazer? Pra que raios você serve? Qual seu papel social? Qual seu valor para a comunidade?

Não é fácil não. Primeiro você nasce para ser o filho perfeito. Depois você cresce para ser o aluno exemplar. Depois você tem a obrigação de ter uma carreira. Depois, o dever de ter uma família. Depois, uma aposentadoria confortável e, por fim, uma morte que deixe um legado. Em que momento você teve tempo, ou melhor, espaço para poder responder o que você realmente queria da vida? Você já nasce com a obrigação de satisfazer os desejos, as expectativas, as frustrações dos seus pais para depois passar o resto da vida tentando satisfazer os desejos, as expectativas e as frustrações de todo mundo ao seu redor, e ainda tem uns e outros que têm a cara de pau de te incomodar perguntando o que você quer da vida.

O que eu quero da vida? Eu quero paz, isso sim. Quero um minutinho de silêncio por favor. Quero não ter que responder nenhuma pergunta pela próxima hora. Quero ficar aqui tostando no sol sem que ninguém me lembre do filtro solar. Quero apenas ser, sem ter que fazer nada. Hoje você não é ninguém, a não ser que você faça algo. O que você faz? Ah, eu sou veterinário, mas também ajudo na ONG dos animais pela vida, faço aula de de mandarim e realizo oficina de bilboquê com garrafa pet. Mas o que raios você é? Bom, eu sou um ser humano. E? E o que? E o que você é? Ah, eu sou veterinário, mas também ajudo na ONG dos animais pela.... zzzzzz

Ninguém mais tem o direito de ser o que se é. Todo mundo é o que faz. E quando você simplesmente se dá o direito de ser, SER tranquilo, SER despreocupado e porque não dizer até SER um tando preguiçoso, as pessoas já vêm logo enchendo o seu saco, o que você quer da vida? Oras, eu quero apenas isso. Quero ser quem eu sou e pronto. Sem ter que fazer nada para validar isso.

O que eu quero da vida. Bom, eu quero que ela seja agradável na maior parte do tempo. Eu quero ter sabedoria para lidar com meus problemas e serenidade para lidar com todas as dificuldades que aparecerão. Eu quero aprender com a dor e quero não superestimar a alegria. Eu quero ter tranquilidade para fazer as coisas no meu tempo. E quero tempo para fazer menos coisas ainda do que faço, sem ninguém me puxando a orelha por isso. Eu quero observar as nuvens, contar as estrelas e ouvir música nesse meio tempo.

Eu entendo que existe muita gente que não concorda comigo. Que tem uma visão clara de sua missão e função nessa grande empresa da vida, e se sente muito bem em poder trabalhar diariamente em busca de seus objetivos e ideias. Eu compreendo e admiro. Quiça até invejo um pouco e gostaria de ter algumas dessas certezas na minha vida tão repleta de dúvidas e inadequações. Acho que é de gente assim que o mundo realmente precisa. Mas aí eu volto a mim mesma e penso, pra que lutar contra o que sou, se já é tão difícil ser? Melhor fazer as pazes comigo mesma e assumir que nessa vida, eu vim apenas a passeio.

quarta-feira, junho 17, 2015

Saia da sua zona de conforto! - uma história de café, embaixo da coberta

Isso pode fazer muito sentido hoje em dia, na era do individualismo e da competição, mas duvido que tenha sido sempre assim.

Imagina se uma duquesa iria falar para uma marquesa, ai miga, preciso sair dessa zona de conforto, não aguento mais o confeiteiro que faz todos os doces que eu gosto, a minha dama de companhia que me veste todo dia, e esses vestidos lindos que eu vivo ganhando do James.

Ou então se no auge da era clássica, Platão iria virar para Aristóteles e mandar ele sair da zona de conforto das discussões na ágora de Atenas e ir carpinar uns lotes.

É impossível até dizer isso para um gato ou cachorro. Vai cachorro preguiçoso, sai dessa sua zona de conforto, para de tomar sol e vai caçar alguma coisa. Ou então, para de dormir gato acomodado, sai logo dessa sua zona de conforto e vai procurar uma ocupação.

Até no tempo do feudalismo eu duvido que um servo virava pro outro e dizia, tá na hora de sair dessa zona de conforto e começar a cuidar dos lotes do senhor feudal aqui do lado também para ver se a gente fica rico de uma vez. Duvido.
 

Esse negócio de sair da zona de conforto é superestimado. Se é confortável, pra que raios eu vou sair? Pra sofrer? Pra me dar mal? Eu não, eu vou ficar por aqui, que ao menos é quentinho.

terça-feira, junho 02, 2015

Descobri que sou alérgica à vida – uma história de chá, alergênico

Sou alérgica à raiva e à agonia que fazem meu sangue ferver
Que fazem minha ansiedade querer sair pelos poros de minha pele
Sou alérgica aos ares de indiferença
Que entopem minhas vias e me fazem sufocar de auto-penitência
Sou alérgica à ingratidão
Que inflama meus olhos e derrama esperanças em pesadas gotas
Sou alérgica à palavras não ditas
Que incham minha glote e me fazem querer gritar quando não há ninguém para ouvir
Sou alérgica à poeira do tempo
Que coça meu corpo inteiro numa vontade de fazer o que não dá mais para ser feito
Sou alérgica a imagens antigas
Que tiram a força de minhas pernas e me impedem de dar um passo adiante
Sou alérgica ao frio na espinha
Que me lembra de tudo o que eu tenho que esquecer e que ainda me persegue

Descobri que sou alérgica à vida
E que viver provoca reações adversas
E que o único anti-histamínico possível
É se perdoar e não olhar para trás