Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quarta-feira, novembro 12, 2014

Quando em situação de pedestre, se desespere - uma história de café, sem volta


Eu perco a fé no futuro da humanidade toda vez que atravesso a rua.

E nem é uma questão filosófica quanto ao propósito de atravessar a rua. Nem existencial quanto a finalidade de atravessar a rua se ainda permaneço praticamente no mesmo lugar.

O problema é que, toda vez que decido atravessar a rua, na faixa, sou obrigada a enfrentar seres humanos aparentemente iguais a mim, porém totalmente fora da realidade. Alucinados. Completamente alucinados. Beirando surtos psicóticos. Eu sei que todos eles se encontram, naquele momento, vestindo armaduras de uma tonelada. Só não entendo como esse fator da engenharia consegue alterar o funcionamento de seus cérebros.

É tudo muito simples. Somos todos seres humanos. Alguns com mais humanidade do que os outros, é claro, mas isso não vem ao caso. Entretanto, basta o dito cujo estar montado em um veículo automotor para esquecer completamente o que é ser de carne, osso e sangue, ter que usar as pernas para se locomover, e pior, usar a massa encefálica para pensar.

Será que é tão difícil assim para uma pessoa em situação de motorista ter empatia por uma pessoa em situação de pedestre?

Somos todos pessoas afinal, não? Pele, ossos, músculos, gordura, muita gordura. O que custa, do alto de seu assento confortável e de seus pneus com freios ABS olhar para outro ser humano e enxergar um igual? É tão difícil assim?

Por que tanta raiva? Por que motoristas olham para pedestres com tanto ódio? Por que passam em alta velocidade na faixa de pedestres, encarando o pedestre com um risinho de eu-podia-estar-te-matando, só-não-faço-isso-porque-hoje-não-é-dia-de-lavar-o-carro?

Não consigo entender como um carro pode mudar tanto o caráter e a personalidade de alguém. Não consigo entender como alguém pode se achar no direito de tirar a vida de outro igual, simplesmente porque está vestindo uma capa de lata, ou que seja fibra de carbono.

É por isso que eu perco a fé na humanidade. Se o ser humano não é capaz de enxergar seus iguais em uma situação tão banal e cotidiana como atravessar a rua, nada mais é possível e não há mais salvação. Seremos todos atropelados como galinhas de estrada por pessoas com tanta essência quanto suas SUVs.