Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Dê-me uma bolsa ou um sapato e eu serei uma mulher feliz – uma história de café, de salto alto

Com o passar dos recentes anos, fui desenvolvendo essa gigantesca fixação por sapatos e bolsas e tenho reparado, (nada oficial, mas tudo muito bem observado) que não sou a única. À medida que o tempo passa, não sei porquê, as mulheres desenvolvem essa incrível adoração por bolsas e sapatos. Não basta ter um, dois, o de sair e o de trabalhar ou qualquer outra denominação que seja, é preciso tê-los as dúzias, as baciadas, ou então, tudo está perdido.

Para explicar tal fenômeno de forma racional, vou enumerar alguns dos fatores que nos levam a seguir esses padrões de forma tão natural. Bolsa é algo indispensável, que você usa todo dia, olha todo dia, carrega todo dia, não sai de casa sem. Sendo assim, você tem duas opções, ou usa a mesma bolsa durante meses até enjoar e ter que arranjar outra, ou troca de bolsa todo dia como quem troca de roupa de baixo. Em qualquer uma das alternativas, você vai precisar de pelo menos mais duas bolsas-do-dia-a-dia-reserva para alternar, qualquer que seja a sua rotina de variação entre elas. Paralelo a isso, temos as bolsas de festa e ocasião. No ramo bolsas de festa, é preciso ter uma pretinha básica e uma outra de cor qualquer, no mínimo. E aí, seguem as bolsas adicionais, uma bem pequena para quando você não quer levar muita coisa, uma grande para viagens e qualquer outra de acordo com as especificações da dona. Isso, limando tudo muito por baixo, considerando ter apenas o necessário, apenas um exemplar de cada tipo, sem extravagâncias, sem estripulias.

Já os sapatos são mais complicados, depende muito do estilo de cada um. Eu não gosto muito de calçado social. Então, mantenho uns dois ou três básicos para emergências, uma sandália “de festa” e pronto. Mas há quem consiga listar milhares de subgêneros dentro da minha pobre e pequena lista. Prefiro sandálias mais despretensiosas, tênis coloridos, sapatilhas e todo e qualquer tipo de coisa estranha que saia no mercado. Assim, mesmo que eu já tenha o sapato de festa, o de todo dia e o especial, é praticamente impossível me conter frente a alguma novidade. Veja só, sapatos são coringas. Eles podem mudar completamente o visual. Transformar uma roupa básica em algo especial, aumentar uns centímetros, imprimir um tom formal, ingênuo, ousado, chamar a atenção. Não adianta, são eles que vão determinar a sua real intenção ao escolher aquela roupa. É muito simples visualizar isso. Imagine um terno. Formal, não? Isso se o sujeito em questão estiver usando um sapato social que combine. Se ele estiver de tênis, sua interpretação sobre quem é essa pessoa é uma, já se ele estiver de havaianas, sua interpretação vai ser completamente diferente. Assim, não adianta apenas escolher a roupa, a vestimenta dos pés é fator determinante das suas intenções na composição. Deste modo, é impossível manter um número restrito de calçados. É sempre bom ter um a mais, algo novo, algo antigo, você nunca sabe o que ou quando vai precisar.

Findas as minhas explicações racionais e absolutamente aceitáveis, vem tudo aquilo que não se explica. É impulso. Estou passando em qualquer lugar e vejo algo que me atrai, bolsa, sapato ou qualquer variação, é impossível não parar e ficar admirando. Difícil mesmo é me conter e não comprar tudo o que vejo pela frente, muitas não conseguem.

Mas já constatei que o intrigante evento não se passa apenas comigo, é algo como um mal comum que todas nós, mais dia ou menos dia, iremos sofrer. Alguns homens não entendem, outros não querem nem ter conhecimento, muitos nem notam se trocamos a bolsa ou estamos usando um sapato novo. Não importa. Aliás, quando abro o armário e vejo a quantidade de bolsas, nem sei o que importa. Só sei que amos todas elas, assim como amo meus sapatos e por mais que às vezes eu não tenha saco para experimentar um vestido ou provar uma calça, eu sempre tenho paciência de sobra para escolher uma bolsa nova ou algo que tenha sido feito especialmente para o meu pé. Ainda não entendo de onde vem essa fúria por acessórios, mas sei que não estou sozinha nessa enfermidade e sei que onde quer que esteja, bolsas e sapatos sempre irão me fazer feliz.

O elevador e eu – uma história de café, entre andares

Eu não gosto de elevador. Do mesmo modo que tem gente que não gosta de quiabo, ou jiló (eu adoro os dois), eu não gosto de elevador. Assim, sem nenhum grande motivo aparente. Não tenho nenhum problema com eles. Nenhum trauma. Nunca fiquei presa durante horas, nunca me aconteceu nada de mal. Eu simplesmente não gosto deles. Mas, apesar de não gostar, ao contrário do que as pessoas fazem com o jiló e o quiabo, eu não o evito. Dificilmente pego as escadas (a não ser que sejam rolantes) ao invés de ir de elevador. Só quando tenho que ir a andares baixos e seria um desaforo chamar o elevador, que eu me dou ao trabalho de subir as escadas. De outra forma, mesmo com todo o meu desgosto, encaro o dito cujo.

A parte que eu não gosto nos elevadores é a impessoalidade. Você entra lá, naquela caixa de metal que se fecha com o seu consentimento e começa a subir ou a descer um vão. Ao seu lado, estranhos, ou às vezes até pessoas conhecidas. Todos compactados na mesma caixa. Você não sabe muito bem o que dizer, aliás, não sabe nem se deve dizer alguma coisa. Não se mexe muito para não invadir o espaço pessoal de ninguém. Se tem espelho, você olha para trás, meio discretamente e finge arrumar o cabelo. Se tem aqueles contadores de andar, você fica olhando fixamente como se pudesse acelerar o processo de locomoção. Se você não tem nenhuma válvula de escape, olha para o chão, pega a chave, mexe na mão, ou reza para tudo acabar o mais rápido possível. O problema mesmo é quando alguém resolve puxar papo “puxa, parece que vai chover hoje, não?”, “que calor!”, “nossa, como você cresceu! (eu não cresço há mais de 10 anos) a última vez que te vi, você estava no colo da sua mãe!” (ã-hã). É insuportável, eu não consigo dar continuidade a nenhuma dessas conversações. Sou incapaz. Simplesmente, puramente, incapaz. Parece-me imoral, falta de decoro manter uma conversação num lugar tão apertado, quando em breve nos separaremos para nunca mais nos vermos. Porque então tentar manter qualquer tipo de relação?

Por outro lado, acho educado (e isso eu pratico) cumprimentar as pessoas ao entrar e ao sair do elevador. Mas apenas isso. Não precisa de nada mais. Afinal, o tempo que dividiremos no mesmo recinto não requer maior intimidade de conversação, não? Um simples “ola/oi”, “bom dia/tarde/noite” ou até um discreto aceno de cabeça, seguido por um “tchau/até logo” já basta. Porque teimar em manter uma conversação que vai de nada a lugar algum? Só aumenta o incômodo que é estar no tal elevador.

Sem contar o verbo que se usa para descrever o ato de transitar dentro do moderno aparelho destinado ao deslocamento vertical dos corpos. Você toma um elevador? Eu tomo água, remédio, até vergonha na cara... Agora um elevador? Tomá-lo, engoli-lo? Sei lá, difícil para mim. Você pega um elevador? Você agarra ele com todas as suas forças para só soltar quando chegar no seu local de destino? (acho que para certas pessoas isso até pode servir, não para mim.) Você anda de elevador? Não é tão mal, já que você anda de carro, de moto, de cavalo... Acho que o melhor mesmo é ir de elevador. Vou de elevador, afinal, ele nada mais é do que um meio de transporte, por mais limitado que seja.

Durante a minha infância, era fã de elevadores. Entrava e apertava todos os andares e saia correndo, achando que tinha feito a maior traquinagem do mundo. Ou então apertava o botão de segurança para o elevador travar no meio de algum andar, assustando todo mundo. Adorava ficar presa e ver o elevador abrir no meio de uma parede, ou entre andares, ou no meio do nada. Ficava esperando o momento que finalmente ele iria me levar para outra dimensão, outra realidade, outro mundo. Infelizmente, isso nunca aconteceu, eu cresci, nós nos separamos e, hoje em dia, apesar de tolerá-lo, eu não gosto mais dele como costumava. Sozinhos, eu e ele, até pode ser. Eu finjo que não estou olhando, ele finge que não se importa. Agora, em companhia de outras pessoas... aí fica complicado.

E quando tem ascensorista? Que andar, por favor? Ou quando tem musiquinha no elevador? O au concour em todas as categorias. O fato é que, apesar de não gostar muito, eu os respeito. Afinal, eles prestam à humanidade um grande serviço levando um monte de gente para baixo e para cima todos os dias. Mas por maior que seja meu respeito, no caso de arranha céus ou elevadores panorâmicos até admiração, não consigo evitar de antes de entrar num deles sempre soltar um suspiro apreensivo de tensão (e aqui vamos nós!).

terça-feira, janeiro 09, 2007

Como nascem os cafajestes – uma história de chá, de coração partido

No início, tudo era luz. Depois de um tempo, surgiram os rios, os lagos, os mares, as montanhas, os campos, as falésias. Então, vieram os animais na água, no céu, na terra e por fim, o homem.

No delicado esquema da sobrevivência, os animais, entre caçar e se defender, também tinham que se preocupar com a manutenção da espécie e, para isso, se reproduzir. Assim, com o passar dos dias, desenvolveram técnicas apuradas de conquista e jogos espirituosos de sedução.

Assim sendo, esse negócio do macho sair a caça da fêmea disputando-a com seus semelhantes não é novidade, vem dos primórdios de nossa existência. E o potente reprodutor, além de ter que conquistar a desprevenida fêmea, ainda tinha que provar para todos os outros machos que era o melhor. Como se pode ver, uma artimanha cruel e insensível da natureza.

Na hora de escolher uma presa, o macho se decidia por aquela que causasse maior frisson dentre aqueles de seu bando, pois o troféu do prêmio seria maior. Por outro lado, a pretendida não poderia ser fácil, afinal, o macho deveria fazer valer o esforço de seu objetivo, valorizando o jogo da conquista.

No princípio, a fêmea se fazia de difícil. O macho vinha daqui, elogiava dali, trazia presentes e tentava se encostar. Firme, a donzela resistia o quanto podia, até que, frente a tamanha demonstração de afeto, ficava caidinha e se decidia, por fim, ceder aos encantos do Don Juan. Furiosos e com muita dor de cotovelo, os demais machos do bando não podiam fazer nada além de lamentar, afinal, aquela havia sido a decisão da fêmea e, ciente dessa posição, o macho vitorioso desfilava todo garboso acompanhado de sua tão estimada noiva.

Selado o acordo de amor, o macho cortejava a bela até que, finalmente, pudesse traçá-la e enfim exercer sua função de reprodutor. Tendo o coito sido concretizado e a superioridade do macho ativo perante seus iguais consolidada, ele simplesmente abandonava a fêmea, desamparada e perdidamente apaixonada por ele, indo em busca de outra vítima. Enquanto isso, a pobre moça, emprenhada e sofrendo de amor, deveria seguir em frente e encarar seu futuro de mãe solteira a espera de um novo amante.

Enquanto isso, a futura vítima do mesmo macho doravante apenas cafajeste, mesmo sabendo das características cafas de seu caçador, iria acolhê-lo de braços abertos, afinal quem não quer o macho de maior destaque e prestígio do grupo? Ele já tinha provado que era um bom reprodutor (dava no coro com primazia) e ainda impressionava os outros machos, não havia porque recusar. Sem contar que toda fêmea pode até negar, mas no fundo, adora ser exibida como troféu, além de obter a aprovação e inveja dos demais

Deste modo, guardadas as devidas proporções, este é o comportamento típico do cafajeste moderno. Não que ele realmente faça isso por mal, mas como pudemos constatar, é tudo uma questão de instinto. Afinal, depois de milhões e milhões de anos de evolução, como é que você muda um comportamento desses? Lembre-se nós estamos falando dos HOMENS, você um dia acreditou que eles pudessem mudar?

domingo, janeiro 07, 2007

Poesia concreta - um pensamento de chá, da natureza

I.
Jabuticaba
Jabuti caga
Jabuti cagado
Jabuti caagado

II.
Jabuticaba
Jabuti cabe
Jabuti acaba
Jabuti acabado