Se eu tivesse tempo... – uma história de chá, atemporal
“Eu não tenho tempo” É isso o que eu, você e mais uma porrada de gente repete a todo o momento, perdendo até a noção de quantas vezes já repetiu, como se o tempo fosse algo mensurável e pudéssemos realmente tê-lo ou não tê-lo.
“Não tenho tempo”, “preciso arranjar um tempo”, “estou sem tempo”, “preciso de um tempo para mim”, “eu não sei o que fazer com o meu tempo livre”. Quando será que os seres humanos acharam que tinham poderes sobre o tempo? Quando passaram a nomeá-lo e dividi-lo com horas? O tempo é relativo, sendo assim, ter ou não ter tempo também é relativo e por sua vez, impossível de ser algo preciso.
Essa falsa noção de que podemos controlar o tempo, que podemos ter o NOSSO tempo, perder tempo ou ganhar tempo é apenas um reflexo de nossa necessidade de controlar tudo. Como é possível perder tempo se você nunca realmente o teve em suas mãos? E como é possível ganhar tempo se ainda não conseguimos estocar horas? E ter um tempo só para si é algo completamente ilusório, já que o tempo não é de ninguém, é simplesmente a diferença entre a alvorada e o anoitecer.
É engraçado como hoje em dia, quando tudo muda tão rapidamente, quando o imediatismo é imperativo e quando vivemos entre ondas de ansiedade e terror, as pessoas estão realmente obcecadas com o tempo. Obcecadas em possuir o tempo, desejosas de poder transformá-lo em mais um bem comercial.
Você vai na padaria e pede 3 pãezinhos, 200 gramas de queijo, 100 gramas de presunto e mais 5 unidades de tempo para poder ficar assistindo TV enquanto toma seu lanchinho. Bom seria se algo assim fosse realmente possível. Mas acho que é mais ou menos essa noção que temos hoje em dia, apenas não temos uma real consciência disso.
Porque ao falarmos do tempo, sempre nos referimos a ele como um bem tangível, tenho, não tenho, vou conseguir, reservei um para mim. Vivemos essa ilusão com o tempo, enquanto o próprio tempo nos envolve e nos confunde, mantendo-nos em uma espiral de ansiedade e tensão.
Na realidade, não controlamos o tempo, ele que nos controla. Somos escravos de seus segundos que correm apressados, dos minutos compassados e das horas que se arrastam. Apenas adequamos nossas necessidades e vontades às reais vontades do tempo. Uma pena que, inocentemente, ainda achamos que temos controle sobre o tempo.
Seria realmente muito mais fácil deixar-se guiar pelo nascer e pôr do sol, ao invés de viver essa ditadura dos segundos. Mas isso seria livre demais e devemos ter controle. Bem, aí está, o preço por tentar controlar algo tão arisco quanto o tempo é simplesmente nos tornarmos escravos do próprio objeto de desejo.