Não era grande fã de
animais. Nada contra, até tinha amigos que eram, só não nutria
nenhuma paixão por qualquer uma das espécies existentes.
Não que praticasse
maldades, muito pelo contrário, admirava todos os seres vivos
abençoados por deus nessa nossa existência mesquinha. Entretanto,
não sentia necessidade de manter um contato estreito com nenhum
deles.
Amava os animais. Eles
lá e ele aqui. Era um relacionamento pacífico, amoroso de uma forma
platônica até. Não era vegetariano, mas também não pregava a
religião da carne. Lutava pela preservação dos bichinhos em
extinção, evitava, inclusive, o consumo exagerado de atum, peixe
que sofre com a pesca predatória.
Não apoiava a caça às
baleias, nem por seu aspecto cultural, não usava roupas de pelo ou
couro animal. Apreciava os animais no zoológico, mas achava que eles
estariam melhor soltos na natureza. Em resumo, verdadeiramente amava
os animais, só não fazia questão de um contato tão próximo.
Nunca tivera a vontade
de ter um cachorro, ou um gato. Achava um absurdo manter um pássaro
na gaiola, mas quando criança, tivera um porquinho da índia. Pobre
animalzinho. Ficou tão grande que mal cabia na pequena jaula e teve
que ser doado para alguém dotado de um quintal.
O único animal de
estimação que fora capaz de criar com certo sucesso e até uma boa
dose de amor foi um peixe. Um não, vários, porque como se sabe,
esses peixes de aquário não duram muito, tão delicados,
pobrezinhos. Às vezes morrem de fome, às vezes por excesso de
comida, às vezes por falta de oxigênio, às vezes por muita
sujeira.
Porém cultivava seu
aquário de forma modesta, sem grandes alardes. Não o incomodava que
os peixes pouca satisfação davam. Que não abanavam o rabo quando
ele chegava em casa, que não pulavam em seu colo quando se sentava
para descansar no sofá, ou que não emitissem som algum mesmo quando
estavam em algum tipo de necessidade.
Era uma relação
simples. Ele os alimentava, limpava, dava uma ração mínima de
amor. Em troca, os peixes dançavam no aquário e não incomodavam.
Mesmo próximos, eram distantes, do jeito que ele gostava.
Mas a natureza da vida
não cessa em nos surpreender. E foi quando ele reparou que, sempre
que saia de casa, o tapete da porta de entrada insistia em sair
também. Sempre achava um jeito de se prender à porta, de ficar um
tanto para fora, de espiar a rua, de se insinuar no passeio.
Desajeitado, parecia inclusive se contorcer para poder ir também.
E a coisa foi ficando
cada vez mais frequente, mais insistente, de modo que um dia, farto
da solidão cotidiana e já muito curioso quanto ao comportamento
estranho do tapete, decidiu fazer sua vontade. Pegou um barbante,
amarrou em torno do pescoço do dito cujo e saiu com ele para
passear.
Na rua, percebeu que
todos os olhavam, principalmente para o bichinho se arrastando no
chão. Num primeiro momento, sentiu vergonha, mas logo o sentimento
se transformou em orgulho. Finalmente pertencia a outro grupo de
pessoas, aquelas que possuem um animal de estimação e o levam para
passear, aquelas que atraem a atenção dos transeuntes, aquelas que,
muitas vezes, chamam menos atenção do que os amigos trazidos na
coleira.
E pela primeira vez se
sentiu completo. O animal de estimação ideal. Não faz sujeira, não
faz barulho, não arranha. Só precisa de uma voltinha na rua e
pronto, pode voltar para casa feliz da vida e seguir a sua bela
rotina de guardar a porta da frente e receber o dono se embolando em
seus pés.