Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

quinta-feira, abril 12, 2012

Sou feita de fita vermelha – uma história de chá, da sorte


Carrego uma fita vermelha no tornozelo esquerdo.
Pra evitar mau olhado.
Não que eu acredite muito nessas coisas. Mas sei lá, tem umas loucuras que é melhor não contrariar.
E desde que este ano começou, a tal fitinha vermelha insisti em cair.
Só percebo em casa, no banho, quando vou dar atenção aos pés. E aí vejo que meu pedaço vermelho não está mais lá.
Estranho.
Cair assim.
Do nada.
E com essa frequência.
Não que eu acredite muito nessas coisas. Mas sabe, a gente sempre desconfia.
Já devo ter espalhado um pouco do meu escarlate pela cidade.
Estou deixando um rastro.
Quem encontrar, favor devolver ao dono. E se alguém for seguir minhas pistas, que por favor também me ache.
Que posso estar perdida. Um pouquinho em cada canto. E mais um pedacinho além.
Eu amarro outra fita vermelha no tornozelo esquerdo.
E espero que ela me desembarace.

De esquina em esquina, eu aprendo um pouco mais – uma história de chá, na calçada


É preciso ouvir as ruas.
É necessário ler os muros.
Os postes tem algo a dizer.
As calçadas tem sempre algo a contar.

São Paulo é um caos. Desordenado. Desumano. Desastrado. Egoísta. Narcisista. Alienado. Mas quem passeia desligado (casos bem incomuns, é verdade), encontra uma nova cidade.

Pássaros que teimam em desafiar o gorjear rude dos motores. Esperanças que se agarram aos postes. Palavras de ordem, de amor, de desespero que gritam dos muros. Cores, formas e tamanhos que se jogam das paredes. Restos de uma noite perdida que se espalham preguiçosamente pelas calçadas.

É preciso prestar atenção. É preciso andar distraído. Mas mesmo assim com um tiquinho dos sentidos sintonizados.

Essas ruas que têm tanto a dizer. Sombras que precisam tanto falar.

Quando ninguém está olhando. Enquanto o banqueiro dorme controlado. No momento em que os sonhos repousam. As verdades saltam de lado.

E eu leio e eu ouço. E eu escuto e observo. E eu entendo e eu opino. E eu concordo e eu compartilho.

Essas ruas foram feitas para andar e não para ficar parado. Esses muros foram feitos para colorir e não para dividir. Esses postes foram feitos para carregar mais amor do que energia.

Pra entender o que está sendo dito e vivido, é preciso sair da casca.

segunda-feira, abril 09, 2012

Automóvel, o maior desvio de personalidade do ser humano – uma história de café, nervosinho


Como já dito aqui, eu ando muito a pé. E como boa pedestre que sou, possuo técnicas avançadas para atravessar ruas, cruzamentos, congestionamentos, e calçadas onde não existem calçadas.

Sábado à tarde, Sábado de Aleluia, no caso. No meio do feriado da Páscoa. Estou voltando para casa e falta apenas atravessar a rua que me separa do prédio onde moro.

Um caminhão estacionado em cima da faixa de pedestres dificulta a minha passagem e também a minha visão. Como o farol está fechado para os carros, inicio a travessia. Faltando apenas uma faixa de circulação para alcançar o outro lado da rua (Frog, Atari), o sinal fica verde. Eu não mudo o passo, pedestre ciente que sou dos meus direitos e sigo andando.

Aliás, é um absurdo terem que criar uma lei para que o motorista respeite o pedestre quando este está cruzando a via na faixa. Como se humanidade fosse uma lei relativa. Como se a vida fosse algo merecedor só de alguns.

Enfim, depois de passar na frente do carro que ocupava a última faixa ouço “mas é folgada, heim?”. Folgada? O filhodaputa não pode esperar 2 segundos da vida dele pra deixar outro ser humano chegar em segurança na calçada? É por isso e por várias outras razões que eu acho que os motoristas de SP MERECEM FICAR HORAS PRESOS NO TRÂNSITO. É puro mérito. Um fulano que não aguenta esperar 2 segundos para colocar seu possante em movimento, a meu ver, tem o dever de perder horas aprisionado no meio de outros carros, passando raiva, ansiedade e vontade de mijar. Não sou exatamente vingativa. Basta não pisar no meu calo. Detalhe, o motorista em questão ainda estava falando ao celular, uma bela infração de trânsito.

Impressionante. O homo sapiens, esse ser de água, pele, osso, banha e músculos, tão frágil que pode morrer até de gripe, veste uma armadura de pelo menos uma tonelada e fica se achando o ser mais especial de sua espécie.

Nessa questão, ainda devo lembrar essa absurda moda de carros tipo SUV. Baleias frequentemente encalhadas nas ruas e avenidas de São Paulo. Transportando apenas um único mamífero, ocupando quase 2 vias e se locomovendo na velocidade de uma lesma paralítica, são para mim a prova máxima da falta de imaginação de nossos dias.

terça-feira, abril 03, 2012

Viciado - uma história de chá, adicto

Via as mesmas palavras todos os dias.
Lias as mesmas expressões todas as horas.
Escrevia os mesmos advérbios todos os momentos.
Lembrava-se das mesmas figuras todo o tempo.
Sinônimos se fazem difíceis. Melhor usar as palavras da moda.
Inversões são confusas. Melhor manter a ordem das coisas.
E de vício em vício, esquecia tudo o que importava.
Nunca mais tinha sentido o prazer de uma aliteração. Nunca mais tinha dado oportunidade a um verbo. Nunca mais tinha ousado.
Escrevia como sempre. Era lido como sempre. E era como se nunca tivesse estado.
Dizia sem falar. Ouviam sem dar atenção.
Gastava apenas o óbvio.
Guardava o de valor tão bem, que ninguém sonhava mais em usar.
Um dia quis se libertar. Virou as conjunções do avesso. Chutou o imperativo. Aniquilou todos os adjetivos. Sem mais.
E escreveu de ponta-cabeça, o pincel na boca, as ideias nos fios dos cabelos. E os pés pro alto sem ter onde se apoiar.