Chá ou Café?

Chá. Chá preto, chá verde, chá mate, chá de lírio, chá de cogumelo.... para reunir os amigos, para conversar, para viajar... Histórias mais filosóficas, mais sensoriais, mais espirituais, mais... ........................................... Café. Café curto, café longo, café com um pouquinho de leite. Pra acordar, pra deixar ligado, pra tomar rapidinho no balcão. Histórias do dia a dia, teorias de 2 segundos, pirações mais terrenas...

terça-feira, junho 12, 2007

A ditadura das senhas – uma história de café, criptografado

Junto com a segurança e a praticidade que o advento da tecnologia trouxe ao homem moderno, veio o medo. Medo de que alguém roubasse seu conhecimento, medo de que alguém roubasse suas riquezas, medo de perder, medo de ser violado, medo de ser descoberto.

Eu nunca imaginei que teria que memorizar tantas combinações alfa numéricas. Se já não bastasse meu endereço, cep, telefone, celular e número do trabalho, eu ainda tenho que decorar a senha da conta do banco, a chave de segurança do mesmo, a senha do e-mail, a senha da extranet do trabalho, a senha da intranet do trabalho, a senha de acesso ao meu computador do trabalho, a senha do MSN, a senha do gmail, das lojas americanas, do submarino e por aí vai. Cada novo site, cada novo cadastro, uma nova senha.

Obviamente, a tecnologia é ótima. Realmente uma “mão na roda”. Você resolve tudo sem sair da frente do computador. Que conforto, não? Paga as contas, faz transferências, faz as compras do supermercado, o presente da mãe, do cachorro, da namorada. Tudo isso sem tirar a bunda gorda da cadeira e os olhos fixos da tela iluminada. É, terríveis eram os tempos em que a gente tinha que sair de casa para conseguir o que se queria. E imaginar que, há pouco, achava-se um absurdo o vizinho tirar o carro da garagem para ir à padaria. Hoje em dia, a gente não desce nem mais até a garagem.

Mas fora toda essa comodidade incômoda que nos prende cada vez mais ao trabalho, à dependência tecnológica e, principalmente, à mesa do computador (tem gente por aí ficando verde porque nunca mais viu o sol), tem o inconveniente de se ter que decorar incontáveis números e letras, tudo isso por segurança é claro.

O que era para nos proteger, salvar, trazer facilidades e mais tempo livre, só veio a nos escravizar mais. Com tanta combinação para lembrar, eu fatalmente esqueço alguma, ou confundo outra e fazer tudo de novo, trocar a senha e etc, é realmente um pé no saco.

Sejamos francos, esse é um caminho sem volta. Agora não adianta mais reclamar, ou tentar mudar tudo. Por mais que a quantidade de senhas que a gente tenha que decorar seja indecorosa, não há mais o que fazer. Daqui pra frente, é se forçar para lembrar de cada número e cada letra na sua seqüência correta e torcer para que o Alzheimer não nos transforme numa geração de velhos incapazes de compor frases, e sim apenas combinações alfa numéricas.

segunda-feira, junho 11, 2007

Vivendo na ponta dos pés – uma história de chá, do pequeno polegar

Pode parecer exagero, mas não é. Eu vivo a vida na ponta dos pés. E não é no sentido figurado. Eu realmente realizo grande parte das minhas atividades cotidianas na ponta dos pés. E o pior de tudo, eu raramente reparo nisso. Só vou perceber quando algo dói, ou alguém tira uma com a minha cara.

O fato é que eu sou baixinha, mais baixa do que a média das mulheres brasileiras. E sendo assim, eu tenho que me virar. Mas como não foi algo que aconteceu de repente, muito pelo contrário, foi sempre algo cem por cento presente na minha vida, eu simplesmente passei a viver assim, sem nem me ligar do possível ridículo da situação.

Por exemplo, toda vez que eu tenho que passar o cartão (credito ou débito?) em algum lugar, o balcão é mais alto e para enxergar o visor, toca eu ficar na ponta dos pés. Nunca tinha reparado nisso, até que um dia, um aglomerado de colegas de trabalho observava a cena e ria descaradamente atrás de mim.

Outra tarefa complicada é escolher o sabor do sorvete ou ingredientes do macarrão em restaurantes ou cafeterias em que você pode combinar sabores (de ambos os alimentos porem não entre eles). Sempre tenho que ficar na ponta dos pés para conseguir ver todas as opções disponíveis.

Mas não é só a parte burocrática da minha vida que demando uma pressão maior na ponta de meus pés. A parte divertida também. Adoro jogar pebolim, entretanto, aquele canto que fica mais próximo de mim é um canto morto, não consigo enxergar a menos que fique bem na pontinha dos pés.

Shows. Primeiro que é impossível ficar no meio da muvuca. Ou eu fico bem na frente, ou nas laterais. Depois, a chance de eu ter alguma visão minimamente digna do palco é praticamente zero. Por fim, me resta acompanhar tudo do telão. E se já não me bastassem todas as dificuldades anteriormente citadas, eu ainda tenho que ficar na ponta dos pés, porque as cabeças de todos os outros sempre me atrapalham na hora de ver qualquer coisa e, principalmente, na ânsia de respirar um ar menos quente e poluído de tudo quando é aroma, impureza e gás, eu também impulsiono o corpo para cima buscando algo melhor para inspirar.

Sem contar o resto de cenas bizarras. Tentar alcançar alguma coisa numa prateleira na ponta dos pés, cumprimentar pessoas na ponta dos pés, beijar namorado na ponta dos pés, procurar alguém no meio da multidão na ponta dos pés, olhar algo que alguém aponta na ponta dos pés, operar máquina registradora na ponta dos pés e milhares de outras coisas que eu provavelmente faço, não me dou conta ou não me lembro, na ponta dos pés e que aos olhos dos outros seres normais deve parecer piada.

Viver na ponta dos pés, sinceramente, não é algo que me incomode, muito pelo contrário, até me diverte. O problema é que já é tão involuntário, que às vezes eu nem sei mais se eu fico na ponta dos pés ocasionalmente, ou em tempo integral.

terça-feira, junho 05, 2007

E porque eu não posso ter um aquário – uma historia de chá, de água suja

Como toda criança, durante minha infância, eu sempre quis ter um bichinho de estimação. Entretanto, considerando que eu vivia em um módico “apertamento”, os tradicionais gato ou cachorro estavam fora de questão. Sendo assim, tive que apelar para medidas estranhas na tentativa de controlar esse desejo tão natural da idade. Cheguei, inclusive, ao cúmulo de tentar criar um formigueiro. Enchi uma caixinha de fósforo com terra e folhas, enfiei umas formigas e esperei, em vão, que algo acontecesse. Felizmente, em pouco tempo eu me dei conta que a idéia era um fracasso.

No intuito de acalmar essa minha vontade, minha mãe comprou um aquário com dois peixinhos dourados. Acredito que eu até cheguei a dar nome aos peixes. Isso da primeira vez, é claro, porque depois que a troca de peixes virou uma constância, parei com essa mania. Sim, os bichinhos não chegavam a durar mais do que 3 semanas. Até hoje, não sei muito bem do que morriam, se de fome ou exagero de comida. Se de trauma pela brusca troca da água, se de frio ou calor por causa da iluminação.

Apesar de parecerem fáceis de criar, não latirem, arranharem, roerem a mobília ou fazerem xixi no carpete, peixes são extremamente difíceis de se ter como animal de estimação, na minha humilde opinião, obviamente. Primeiro que o bicho não reclama se está com fome, sede (peixe tem sede vivendo no meio de tanta água?), frio, calor, vontade de ir ao banheiro, ou sono.

Daí vem o problema da comida que, para mim, vai ser sempre um mistério. Quando é muito? Quando é pouco? Considerando que os bichinhos têm memória de 2 segundos e depois que comem, esquecem que comeram, fica bem difícil mesmo. Enquanto tem comida, eles comem, se não tem comida, eles não gritam por mais, e se tem demais, eles explodem.

Aí vem o problema da higiene. Eles comem, dormem e vivem no mesmo lugar em que mijam e cagam. Por mais que você cuide da água, limpe, purifique e etecetera, tem sempre aquela aparência de partículas de sujeira passeando. E então você pensa, se esse animalzinho estivesse num rio ou no mar, não seria obrigado a conviver com sua própria merda, porque a correnteza iria levar. E agora porque eu, uma estúpida humana, obrigo o pobre coitado a literalmente viver na bosta? Um pouco injusto no meu, ainda que frio, ponto de vista.

Sem contar que peixes são suuuuuuper interativos. Você bate no vidro, eles assustam. Você fala com eles, não esboçam uma reação sequer. Você chama pelo nome, eles não abanam nem mais nem menos o rabo ou as barbatanas. Você grita, eles nem se alteram, você enfia a mão na água, eles fogem, você dá comida, eles não agradecem. Obviamente, devido ao grave problema de memória que os persegue, eles não conseguem nem lembrar quem você é, mas um pouco de atenção pelo lado deles não seria mal. Entretanto, considerando que você os tirou da liberdade e frescura das águas naturais, nada mais aceitável do que uma retaliação à altura.

Por fim, os peixes morrem com extrema facilidade na minha mão. Deve ser algo químico. Bastou eu cuidar dos bichinhos para eles irem direto pela privada. Fiquei tão boa no assunto que, hoje em dia, quando um deles morre, eu nem sinto mais culpa, tristeza ou desolação. Assassina profissional que mata a sangue frio. A pior espécie. E eu juro, não é por mal, eu alimento, converso, troco a água, sorrio e não adianta, eles teimam em continuar se matando. Provavelmente um biólogo iria explicar tudo de forma lógica, mas sinceramente, acredito que deve ser alguma reação alérgica ao meu corpo. Felizmente, mesmo pequena, eu ainda sou maior e sobrevivo, enquanto eles, um a um, morrem.

A conclusão que chego é que, na minha situação, a única coisa que eu posso criar é uma planta. E no caso, um cactus. Porque quanto menos contato de minha parte o pobre ser vivo merecer, para o bem dele e manutenção da espécie, melhor.