A ditadura das senhas – uma história de café, criptografado
Junto com a segurança e a praticidade que o advento da tecnologia trouxe ao homem moderno, veio o medo. Medo de que alguém roubasse seu conhecimento, medo de que alguém roubasse suas riquezas, medo de perder, medo de ser violado, medo de ser descoberto.
Eu nunca imaginei que teria que memorizar tantas combinações alfa numéricas. Se já não bastasse meu endereço, cep, telefone, celular e número do trabalho, eu ainda tenho que decorar a senha da conta do banco, a chave de segurança do mesmo, a senha do e-mail, a senha da extranet do trabalho, a senha da intranet do trabalho, a senha de acesso ao meu computador do trabalho, a senha do MSN, a senha do gmail, das lojas americanas, do submarino e por aí vai. Cada novo site, cada novo cadastro, uma nova senha.
Obviamente, a tecnologia é ótima. Realmente uma “mão na roda”. Você resolve tudo sem sair da frente do computador. Que conforto, não? Paga as contas, faz transferências, faz as compras do supermercado, o presente da mãe, do cachorro, da namorada. Tudo isso sem tirar a bunda gorda da cadeira e os olhos fixos da tela iluminada. É, terríveis eram os tempos em que a gente tinha que sair de casa para conseguir o que se queria. E imaginar que, há pouco, achava-se um absurdo o vizinho tirar o carro da garagem para ir à padaria. Hoje em dia, a gente não desce nem mais até a garagem.
Mas fora toda essa comodidade incômoda que nos prende cada vez mais ao trabalho, à dependência tecnológica e, principalmente, à mesa do computador (tem gente por aí ficando verde porque nunca mais viu o sol), tem o inconveniente de se ter que decorar incontáveis números e letras, tudo isso por segurança é claro.
O que era para nos proteger, salvar, trazer facilidades e mais tempo livre, só veio a nos escravizar mais. Com tanta combinação para lembrar, eu fatalmente esqueço alguma, ou confundo outra e fazer tudo de novo, trocar a senha e etc, é realmente um pé no saco.
Sejamos francos, esse é um caminho sem volta. Agora não adianta mais reclamar, ou tentar mudar tudo. Por mais que a quantidade de senhas que a gente tenha que decorar seja indecorosa, não há mais o que fazer. Daqui pra frente, é se forçar para lembrar de cada número e cada letra na sua seqüência correta e torcer para que o Alzheimer não nos transforme numa geração de velhos incapazes de compor frases, e sim apenas combinações alfa numéricas.